terça-feira, 29 de setembro de 2009

(Don't cry, baby)


       
- Benjamim? Por favor, apareça.
        - Ben? Onde você está?
        As vozes preocupadas de Jesse e Ruby se transformavam em ecos pela casa vazia. Os dois andavam pelos corredores, abriam armários, portas, procuravam debaixo das camas. E nem sinal do garoto lourinho e sardento.
        - Ben, por favor. – Ruby soluçou enquanto subia as escadas para os quartos. Cambaleava pela escada, e Jesse a amparou, preocupado com o que ela faria em um momento de desespero.
        Continuaram procurando, por pouco mais de meia hora. Benjamin não estava no quarto de Suzannah, no escritório de Elizabeth, na biblioteca de Lucy, por entre os instrumentos musicais de Roxanne, ou no ateliê de Ruby. Não estava em nenhum dos banheiros, salas, na cozinha ou na copa. Não estava naquela casa.
        - Oh Deus – Ruby murmurou, sentando-se na grande cama do garoto, forrada com o mesmo lençol de carros de corrida por sobre o qual ela havia dormido naquela noite – Oh Deus, oh Deus! – Ela afundou o rosto em suas duas mãos, e sentiu as lágrimas quentes molhando-lhe os dedos.
        - Acalme-se, Ruby... – Jesse murmurou, sentando-se a seu lado e passando uma das mãos por sobre seus ombros.
        A menina deixou-se levar pelo abraço consolador de Jesse. Recostou a cabeça na camiseta negra do rapaz, tentando não se lembrar que estava abraçando-o do mesmo modo alguns minutos atrás – mas Jesse estava sem camisa, e os primeiros botões de seu vestido estavam desabotoados. Ele sentiu as lágrimas dela molharem seu peito.
        Se ela não tivesse ido com Jesse até a cozinha, e deixado Benjamin sozinho, se ela não houvesse caído nos encantos do rapaz que agora a abraçava, se ela não houvesse se machucado naqueles malditos patins... Se nada disso tivesse acontecido, Ben ainda estaria a seu lado, sorrindo e inventando uma nova brincadeira.
        - É tudo culpa minha...
        - Claro que não é! – ele respondeu rapidamente. Apertou-a com mais força.
        - É sim, Jesse! Claro que é. Se eu não houvesse... – ela parou, com o rosto encostado suavemente no algodão da camisa dele – Ah, mas que droga!
        - Fique calma, por favor. Vai ficar tudo bem.
        Ele se levantou, tomando cuidado para retirar o rosto dela de seu peito. Tomou as pequenas e alvas mãos da garota por entre as suas, e a ergueu cuidadosamente da cama. Ela precisava se acalmar. Ficar no quarto de Ben não ajudaria em nada.
        Os dois desceram as escadas, silenciosos, resignados. Pararam no centro da sala desarrumada, que tinha todos os seus móveis arredados para os cantos; era fruto da brincadeira de Benjamin. Ruby recomeçou a chorar.
        - Ei, não chore. Ah meu Deus... – Jesse murmurou, abraçando-a novamente.
        Eles se mantiveram assim, com um silêncio que era apenas quebrado pelos soluços entrecortados de Ruby, e por um ranger desconfortável da porta da frente, que insistia em bater em algo. O barulho parecia inicialmente apenas incômodo, mas o silêncio profundo o transformou em insuportável.
        - De onde vem este barulho? – Jesse perguntou em um sussurro baixo.
        - Não sei.
        Os dois se soltaram mais uma vez, e andaram lado a lado até o hall de entrada da casa na qual as Ward passaram toda sua vida. A chuva invadia o piso de madeira polida, alastrando-se em poças de água. A porta jazia aberta e deslizava de um lado a outro calmamente, como se estimulada por uma melodia. Batia sempre em algo, que a impedia de se fechar completamente, e acabava por gerar o barulho incômodo.
        Os patins de Ben.
        - Ah não! – Ruby levou as mãos à sua boca, tentando conter um grito que ansiava escapar. – Não! Não, não, não! Oh Céus, Ben!
        Ele estava lá fora, em algum lugar. Sozinho, indefeso.
        Chamando pelo nome de seu irmão, Ruby correu em direção à chuva, sendo engolida por sua névoa em poucos segundos. Não pareceu se importar com o fato de seu cabelo se encharcar, ou com seu vestido grudar em seu corpo. O frio também não era importante. Apenas trazer Ben a salvo para casa era.
        Jesse também foi, chamando pelo nome da garota. Tentando certificar-se de que ela ficaria bem.

domingo, 27 de setembro de 2009

(The man in the rain)



        A chuva caía cinzenta e fria. Chocava-se com a calçada de cimento, que havia se tornado, subitamente, escorregadia como gelo. Ben continuava correndo, sem se importar com a dor em suas pernas. Sem se importar em quão embaçada sua visão estava, agora que o vento batia na direção oposta de seu corpo. Sem se importar também com o frio que ele estava sentindo.
        Ele só se preocupava em encontrar Ruby.
        Por que ele era – como Anna Molly havia dito – o homem da família Ward. Como o único homem, em meio a seis garotas, ele deveria proteger a todos ali. Não importava em nada o fato de ele ter seis anos de idade. Simplesmente era assim que tinha que ser.
        O garoto levou um de seus braço defronte ao rosto, tentando se livrar da água da chuva, que insistia em bater com força contra seus olhos. As bochechas sardentas de Benjamin estavam incrivelmente vermelhas, como se ele houvesse levado uma centena de tapas. Ao colocar seu braço diante dos olhos, o garoto passou a correr cegamente pelas calçadas escorregadias da Alameda Virgínia. Apenas parou quando sentiu seu corpo bater fortemente contra algo, e seu pés escorregaram na chuva, de modo que ele estava estatelado no chão molhado pouco segundos depois.
        - Opa, você está bem, amigão? – Ben ouviu uma voz masculina se destacar sob o barulho incômodo da chuva que ainda insistia de cair incessantemente sobre seu rosto. O garoto tentava cobrir os olhos com a manga de seu impermeável amarelo, mas não obteve sucesso algum. Ele apenas conseguiu se livrar da água fria que desabava do céu quando a pessoa, o rapaz que havia esbarrado nele, estendeu um grande guarda-chuva negro que tinha em mãos.
        - Você está bem? – insistiu preocupado, enquanto Ben esfregava os olhos com as duas mãos. Quando o garoto abriu os olhos novamente, fungando, ele piscou algumas vezes para focar o que estava em sua frente. Não demorou muito para ver o rapaz de cabelos castanhos e cacheados, com olhos extremamente verdes, abaixado em sua frente.
        - Minha irmã... – Ben soluçou – Levaram minha irmã.
        - Ei... Está tudo bem. Fique calmo. – O rapaz estendeu uma mão na direção do menino e o ajudou a ficar de pé. O nariz de Ben escorria, e seus olhos estavam tão vermelhos quanto suas bochechas. – Como você se chama?
        - Benjamin. Ben.
        - Oi Ben. Meu nome é Daniel, pode me chamar de Dan. Você disse que sua irmã foi levada?
        - S-sim – o menino levou a mão ao nariz – Um homem a levou. Um homem muito mau.
        - Você se lembra como este homem era?
        Ele fez que não com a cabeça, enquanto cambaleava. Estava tonto com o tanto que havia corrido, com a chuva que não parava de cair a seu redor, com a quantidade de água que havia entrado por seu nariz, com as lágrimas que não paravam de escorrer por suas bochechas.
        - Você está bem, Benjamin?
        Ele fez que não com a cabeça novamente.
        - Venha comigo. Vamos secar estas suas roupas. Depois eu te ajudo a achar sua irmã.
        O menino olhou pensativo para os olhos verdes do rapaz à sua frente. Tentou ouvir a voz de Anna Molly em cada uma daquelas gotas de chuva que caíam ao redor dos dois. Mas elas pareciam tão silenciosas quanto sempre.
        “Oh droga. Mais uma garota. Talvez devêssemos contar a verdade à elas. Sobre o real motivo de estarmos aqui. Não podemos deixar que pessoas como a irmã deste garoto sejam atacadas assim...”
        Ele se importava de verdade com ele.
        Ben fitou o rapaz, curioso, tentando ler mais algum pensamento. Se resumiam basicamente à contar a verdade a alguém, e conter os ataques que estavam acontecendo. O menino não entendia do que se tratava, passara sua vida toda em casa.
        Apenas sabia que Daniel não queria seu mal.
        - Obrigado. – ele murmurou, segurando firmemente na mão do rapaz à sua frente. Daniel retirou o grande casaco negro que usava, e enrolou Benjamin cuidadosamente nele. Passou a mão pelos cabelos encharcados do menino, e o guiou lentamente pela Alameda Virgínia, em direção a uma casa branca e velha.
        Se não estivesse chovendo tanto, Ben perceberia que aquela casa ficava diretamente em frente à sua casa. Onde, naquele exato momento, Ruby acabava de sair da cozinha, segurando as mãos de Jesse por entre as suas.

(Kiss me, softly)


       
- No armário. Acima do microondas – Ruby disse baixinho, assim que Jesse a posicionou sentada na bancada fria de mármore branco da cozinha. O vermelho tingia seu joelho, o ardor tomava conta de sua perna. E a adrenalina estava sendo injetada em seu sangue, por estar a mais de dez minutos no mesmo cômodo que Jesse Hooper.
        Ele atravessou a cozinha, em direção ao armário que havia logo acima do microondas. Estava repleto de remédios. O rapaz franziu o cenho, enquanto lia alguns nomes que lhe pareciam incrivelmente complicados e desnecessários.
        - Anti-séptico – ele ouviu uma voz por sobre seu ombro.
        Ruby estava de pé atrás dele. O vestido rodado balançando suavemente, o joelho em um vermelho vivo com algumas gotas grossas de sangue escorrendo até seu pé. Jesse ergueu ambas as sobrancelhas, segurando três vidros de remédios – dois em uma de suas mãos, e um na outra – enquanto a garota respirou fundo e repetiu
        - Anti-séptico... O frasco azul em sua mão direita.
        - Ah, claro... Eu... – Ele fitou ambas as mãos por algum segundo, tendo uma dificuldade momentânea de distinguir qual dos vidros era o azul. Colocou os dois outros remédios aleatórios de volta no armário, e virou-se para a menina novamente.
        - O algodão fica... Do outro lado.
        - Tudo bem. – ele murmurou, passando uma de suas mãos em torno da cintura dela, enquanto fazia questão de que ela apoiasse seu braço por sobre os ombros dele.
        - Você está agindo como se eu houvesse quebrado minha perna. – Ruby riu, quando ele a colocou sentada sobre a bancada de mármore novamente, como se ela fosse uma boneca que estivesse sendo exposta em uma prateleira. Uma linda e machucada boneca. – Foi apenas um arranhão.
        - Todo cuidado é pouco, não?
        Ele sorriu. Foi o bastante para ela.
        - Os algodões estão aqui em cima – ela murmurou, ao perceber que estava sorrindo mais do que pretendia. Girou o corpo um pouco, tentando estender sua mão a um armário que ficava exatamente em cima dela, mas ouviu a voz do rapaz novamente.
        - Pode deixar. Eu pego.
        Jesse estendeu a mão em direção ao armário, abrindo-o à procura de algum algodão. Ruby praguejou silenciosamente, ao perceber que ele estava estendido sobre ela, e praguejou ainda mais ao perceber que estava gostando de sentir o perfume que ele usava.
        - Aqui está... – ele murmurou, dando alguns passos para trás. Encarou uma Ruby levemente tonta e mal-humorada.
        - Bem... Eu acho que posso continuar daqui. Obrigada Jesse.
        - Nem comece. – ele respondeu, colocando o vidrinho lentamente ao lado dela e se ajoelhando diante de seu machucado, analisando-o clinicamente. – Você não vai se livrar de mim assim, tão fácil.
        - Jesse... É sério.
        - Sabe... – ele se levantou novamente, colocando as duas mãos espalmadas ao lado das pernas dela. Ela estava presa agora. Presa nos braços de Jesse Hooper – Ajudaria um pouco, se você não fosse tão defensiva à minha presença...
        Ele estava tão próximo, e no segundo seguinte se afastou dela, ajoelhando-se novamente diante de seu joelho machucado.
        Jesse preparou os algodões umedecidos com um líquido, enquanto um silêncio se estendeu por sobre os dois. Na cabeça de Ruby não havia nenhum silêncio, porém. Suas duas vozes colidiam ferozmente, na tentativa de um consenso sobre qual seria sua próxima ação.
        “Desça nesse instante, e beije-o. Você sabe que quer isto.”
        (De modo algum, Ruby. Você já se esqueceu de James? Não há a menor possibilidade de você se envolver agora. Mande-o embora.)
        “Beije-o...”
        (Despeça-se)
        - Me desculpe – ela murmurou repentinamente, enquanto sentia seu ardor dissipar-se ao entrar em contato com um líquido frio. As vozes silenciaram neste exato momento. Não era mais a Ruby instintiva falando, ou a Ruby apaixonada por James. Era apenas Ruby. A verdadeira.
        - O quê? Não, não. – ele murmurou, levantando-se rapidamente. – Me desculpe você por ter dito isto deste modo. Mas o problema é que você é totalmente um enigma para mim. Eu não consigo perceber o que você está pensando ou sentindo.
        - Ainda bem.
        - Por que diz isto? – ele riu, enquanto colocava um algodão sujo de sangue por sobre a bancada na qual ela estava sentada.
        - Bem... Sinceramente, há milhares de Ruby’s em minha cabeça. E eu nunca sei a qual ouvirei. Um lado muito forte meu me manda simplesmente lhe mandar ir embora e nunca mais me procurar novamente... Mas há um outro lado que simplesmente...
        “Quer lhe beijar. Quer tirar sua roupa. Quer você”
        -... Gosta de sua companhia.
        - E qual lado está falando mais alto agora? – ele pegou um pequeno esparadrapo e uma gaze, os quais ele havia retirado do armário de onde pegou os algodões. Abaixou-se novamente diante do joelho arranhado da garota.
        - Nenhum. Eu mandei que se calassem.
        “Mentirosa”
        (É, mentirosa)
        - Então eu estou falando com a Ruby real agora?
        - Existe apenas uma Ruby... Estes meus pensamentos são apenas... Dúvidas, eu acho.
        - Acha?
        - Podem ser qualquer coisa. Até um sinal de que eu esteja enlouquecendo.
        Jesse riu.
        - Posso acrescentar isto à minha lista de coisas interessantes sobre você.
        - Coisas interessantes? Não ocupará mais de duas linhas, garanto.
        - Até agora, eu tenho mais de duas, se quer saber.
        Ele se levantou novamente. Havia terminado o curativo da garota e agora se apoiava em suas duas mãos, que estavam novamente espalmadas na bancada em que Ruby se sentava. Seus olhos estavam mais verdes naquela manhã.
        - Conte-me. – ela sussurrou.
        Jesse chegou seu rosto bem próximo ao dela, como se fosse lhe contar algo extremamente secreto. Respirou fundo, sentindo o perfume cítrico que a garota usava, e sussurrou ao pé de seu ouvido.
        - Você consegue ser incrivelmente amável em um instante, e se tornar fria no momento seguinte. Não se importa se alguém a atropela por acidente, mas se este alguém ousa retirar suas roupas, você surta – ela soltou uma breve risada, nervosa com a proximidade dele – Você gosta de ler Shakespeare e faz anotações inteligentes no canto das páginas amareladas e velhas do livro, você ama seu irmão mais do que ninguém, e que se fecha para o mundo quando escuta o nome de James...
        Houve uma pausa.
        - E, o principal, tirando esta novidade das milhares de Ruby’s em sua cabeça, é o fato de você ser a primeira pessoa que eu já conheci, que cai de patins em minha frente, machuca o joelho e continua sendo completa e irresistivelmente linda.
        Ele se afastou lentamente, sentindo o calor do rosto dela passar para o seu, sem sequer tocá-la. Mas desta vez, ele não deu nenhum passo para trás. Manteve-se diante dela, os narizes dos dois quase se tocando, as mãos dele espalmadas ao redor dela.
        - Eu... Não sei o que dizer.
        - Não diga. O quê a Ruby em sua cabeça está dizendo agora?
        “Beije-o”
        (Caia fora)
        - Ela quer que eu... O beije.
        - E é o que você quer?
        - É o que você quer? – ela repetiu sua pergunta.
        - Definitivamente.
        As Ruby’s se calaram.
        Jesse passou uma de suas mãos pela nuca de Ruby, puxando lentamente o rosto da menina contra o seu. Beijou-a vagarosamente, até que ela desceu da bancada na qual estava e seus lábios desencontraram.
        - Por Deus – ele murmurou, tonto – foi melhor do que eu imaginei que seria.
        E a puxou novamente para si.
        Mas desta vez o beijo foi diferente.
        Eles eram apenas aquilo, apenas instintos, sentimentos, desejo. Respirar agora parecia desnecessário para os dois, e eles não demoraram muito a ficar sem fôlego. O suéter negro de Jesse jazia no chão da cozinha, e o vestido de Ruby estava consideravelmente amarrotado, com suas alças pendendo por sobre os alvos ombros.
        Jesse estava entorpecido. Não se sentia daquele modo desde quando? Talvez de quando ele conhecera uma recepcionista de hotel, e fizera sexo com ela no armário de vassouras. Talvez nem naquele dia ele se sentira tão... Repleto de desejo como estava agora.
        Ruby sentiu as mãos do rapaz passarem trêmulas por entre os botões de seu vestido, logo após ela jogar a blusa negra, que ele usava abaixo do suéter, no chão. Ela também não se lembrava de quando se sentira assim, com o coração batendo tão forte que mal podia ouvir as Ruby’s gritando em sua mente.
        Fazia três anos que ela não se sentia assim. três anos. Desde que James...
        (James!)
        “Não, pro inferno com James. Jesse!”
        (James, Ruby... Os melhores anos de sua vida, se lembra?)
        - Jesse... – ela ofegou por um momento, empurrando o peito nu do rapaz para longe de si. Ele estava quente.
        - Não fale – ele respondeu, com um sorriso fraco em seu rosto. Não sabia o motivo de seu coração bater tão forte naquele momento.
        Tentou beijá-la novamente, mas Ruby se esquivou.
        - Jesse... Não...
        Ele precisou de alguns segundos para entender o que estava acontecendo. Em um momento, eles estavam jogando as roupas para o alto, como se fossem fazer sexo ali mesmo, no chão da cozinha. No outro, Ruby simplesmente o empurrava para longe.
        - O que houve?
        - Eu... Sinto muito – ela murmurou, colocando o rosto por entre as mãos. Seus lábios estavam incrivelmente vermelhos. – Sinto muito, Jesse. Foi um erro.
        As três últimas palavras dela o atingiram como um tapa.
        Foi um erro.
        Jesse olhou para ela, incrivelmente confuso, mas sem sequer cogitar a hipótese de largá-la. Seus braços demoraram a se afrouxar ao redor dela, ao mesmo tempo em que as palavras ficavam claras em sua mente.
        - Sim... Um erro... Sim...
        - Ben está na sala ao lado.
        - Você não precisa se justificar – ele disse – Eu entendi. Acho que é melhor que eu vá embora agora, certo?
        - Oh céus. Me desculpe – ela exclamou, ajeitando uma das alças de seu vestido por sobre o ombro. Afundou o rosto em suas duas mãos – Eu não devia ter feito isto. Mas que merda Jesse, me desculpe mesmo.
        - Pare de se desculpar. Está tudo bem. – ele murmurou, enquanto abaixava-se para pegar sua camiseta e seu suéter, que jaziam desarrumados no chão de linóleo da cozinha. – Você também é a primeira garota que desiste de fazer sexo comigo no meio do caminho.
        Ruby abriu a boca para responder, mas ele ergueu uma das mãos em direção a ela. Tocou-lhe os lábios avermelhados com a ponta dos dedos.
        - Não se desculpe! Está tudo bem. Já disse.
        Ele passou os braços fortes em torno dela lentamente, trazendo-a para si mais uma vez. Mas Jesse não chegou a tentar roubar-lhe um beijo. Ele apenas a abraçou, sentiu o rosto da menina contra seu peito nu. Sentiu o cheiro cítrico do shampoo que ela usava. Sentiu seu coração bater com mais força. Sentiu que ela era sua.
        - Jesse? – Ruby sussurrou contra a pele macia de Jesse.
        - Sim?
        - Você poderia colocar sua blusa, por favor?
        - Ah! – ele exclamou de súbito, percebendo que estava vestindo apenas seu jeans surrado. Soltou Ruby de seu abraço, vendo suas bochechas se avermelharem enquanto ela ria.
        Quando Jesse colocou sua blusa, percebeu que estava quente demais para vestir aquele suéter negro que antes estava por cima de suas roupas. Dobrou-o sobre o braço esquerdo.
        - Você gostaria de brincar... Comigo e com Ben?
        - Eu achei que... – o sorriso dele se iluminou subitamente – Você havia dito que eu tenho mais o que fazer.
        - Quer ou não, Jesse?
        - Eu adoraria.