sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Nota da Autora: Break

Ok, sei que sou a autora de um livro-blog semi-fantasma, sem muitos leitores e tendo como a principal a Laís, mas queria avisar a todos que lêem este Highway to Hell que eu estou sem internet. Definitivamente. Os capítulos continuam a ser escritos, e eu apenas consegui postar esse aviso aqui com a internet da escola (báááásico!). O fato é que já tenho mais ou menos três postagens prontas em casa, e devo continuar escrevendo até que a internet volte e eu possa disponibilizar isso para vocês.
Acho que é só.
Beijinhos e desculpem por isso tudo...

Letícia xx

domingo, 11 de outubro de 2009

(That ugly alligator shirt)


        - Acalme-se. Vai ficar tudo bem. – ele sussurrou para a figura feminina que jazia apertada contra si, encharcada. Haviam voltado para casa, Jesse e Ruby, após pouco mais de uma hora procurando por Benjamin.
        - Oh meu Deus... Ben... – ela soluçou baixinho, contra a camiseta do rapaz, e sentiu seus olhos arderem um pouco, quando algumas lágrimas despencaram por suas bochechas molhadas, confundindo-se com respingos frios da chuva que caía em volta dos dois.
        - Coloque um casaco. – ele murmurou, caminhando com ela em direção à porta branca que delimitava a residência das irmãs Ward. A garota em seus braços crispou seus lábios extremamente vermelhos e nada disse, limitando-se a soluçar.
        A porta estava entreaberta e , de onde Jesse e Ruby estavam, dava para ver-se uma luz pálida esgueirar-se timidamente pela fresta da porta da frente. O rapaz guiou a garota em seus braços para dentro de casa. Colocou-a sentada em sua própria cama, enquanto abria seu grande armário de ébano e procurava alguma roupa seca.
        Teve medo da reação que Ruby teria, quando começou a desabotoar as costas de seu vestido – pela segunda vez naquele dia –, mas a garota se mostrou apática ao que acontecia ao seu redor. Principalmente ao fato de estar de roupas íntimas diante de um rapaz pelo qual sentia-se – não queria, mas sentia-se – atraída.
        - Como eu pude deixar que ele saísse daquele modo? – ela gemeu mais para si mesma do que para o rapaz à sua frente, que passou as mãos cuidadosamente pelos cabelos molhados da menina, sentando-se a seu lado na cama. A havia vestido com um blusão assustador, no qual havia um crocodilo com presas afiadíssimas.
        - Não foi culpa sua.
        - Céus – ela exclamou, e afundou o rosto em suas mãos.
        Ele limitou-se a passar um de seus braços por sobre os ombros da menina, e trazê-la pouco mais para perto. Sentiu o corpo pequeno e delicado de Ruby tremer com soluços por sob seus braços, o que já fazia com que ele se sentisse incrivelmente impotente. O fato de não poder ajudar em nada na procura do irmão caçula da menina – pela chuva que caía violentamente lá fora –, não estava contribuindo com todo aquele sentimento de inutilidade que tomava conta de Jesse.
        - Ruby? Ben? Eu cheguei! – os dois ouviram uma voz conhecida soar no andar de baixo.
        Silenciosos e resignados, os dois levantaram-se da cama de Ruby e caminharam pelo corredor de cor pastel da casa das Ward. A cada passo que dava, o corredor parecia encurtar-se assustadoramente, como se estivesse achando aquilo incrivelmente divertido, e quisesse ver como seria quando Ruby se encontrasse com a irmã que havia acabado de chegar.
        - Boa noite, R.! – murmurou Roxanne, vendo sua irmã surgir ao pé da escada, como um trêmulo e pálido reflexo no espelho, que usava uma medonha blusa velha com um crocodilo.
        As duas permaneceram se encarando por alguns instantes, mergulhadas nas lembranças que os apelidos –R. e R., apenas as gêmeas poderiam se chamar assim – remetiam. Sentiram-se com quatorze anos novamente, quando Roxanne viu também surgir atrás da irmã um rapaz.
        - Boa noite, Jesse. – ela murmurou.
        - Olá.
        As lembranças dos quatorze anos de idade se esvaíram, e elas estavam novamente com vinte e um. A mais velha delas ao topo da escada, com o nariz vermelho e os lábios crispados. Os cabelos molhados caídos desordenadamente pelos ombros, e uma aparência incrivelmente pálida e assustadora. A mais nova ao pé da escada, com as bochechas coradas e um buquê de rosas vermelhas – a cor de seu batom – nos braços, contrastando-se com o uniforme preto e branco do bar no qual trabalhava.
        - Eu interrompi algo?
        - Não – Jesse murmurou, mas Roxanne havia esperado uma resposta da irmã. Esta se mostrava incrivelmente indiferente ao que acontecia a seu redor. Aquilo deixava Roxy entediada.
        - Novidade... – ela murmurou, largando seu buquê de flores por sobre o chão. Retirou seus sapatos altos dos pés e olhou para os dois ao topo da escada, procurando uma terceira pessoa que deveria estar ali. Um garoto de seis anos, louro e sardento. – Onde está Ben? Ele sempre corre para me abraçar quando chego em casa.
        Outra coisa que Benjamin não havia contado a ninguém era que Roxanne era sua outra irmã favorita.
        - Ruby? Eu estou falando com você. O que houve?
        - Quer que eu fique por aqui? – O rapaz movimentou sua cabeça, aproximando seus lábios do ouvido da garota a seu lado. Ela pousou seu olhar sobre ele.
        - Não precisa. Obrigada, Jesse. Sério.
        - Não fique assim... Vai ficar tudo bem.
        E ele soltou a mão que a garota segurava – embora não houvesse percebido até aquele instante – desde que os dois haviam se levantado da cama de Ruby. Jesse deu-lhe um leve beijo em uma de suas maçãs do rosto, e desceu as escadas de encontro à Roxy.
        - Devo ir para casa. – murmurou ao passar por ela. – Boa noite, Roxy.
        - Tchau, Jesse – ela respondeu, apesar de não entender muito bem o que estava acontecendo. Antes de que ele desaparecesse pela porta, porém, ele virou-se para a garota ao topo da escada e acenou com a cabeça.
        - Boa noite, Ruby.
        - Boa noite, Jesse.

domingo, 4 de outubro de 2009

(Remember those days)


        A casa de Daniel tinha algo de aconchegante. Parecia que ele havia se mudado há pouco, mas os pequenos e velhos móveis da casa já estavam posicionados em seus lugares. Benjamin deixou o grosso casaco com o qual havia sido coberto pendurado em um grande cabideiro, e passou a mão por seus cabelos, espalhando a água que se encontrava neles.
        Daniel guiou o garoto em direção a um banheiro, e lhe entregou em mãos uma camiseta dos The Sex Pistols. Ben encostou a porta, e se trocou, sentindo-se satisfeito. Provavelmente Roxy ou Ruby iriam insistir em supervisionar enquanto ele retirava suas roupas molhadas, e o agasalhariam até que não sobrasse mais algum pedaço de pele a ser coberto. Mas Daniel o havia deixado escolher a camiseta – em uma pequena gaveta, com poucas blusas, mas ainda assim opções – e deixara-o com sua própria privacidade, como se o garoto fosse realmente capaz de trocar sua blusa molhada. Aquilo era realmente a independência da qual ele precisava.
        - Você quer marshmallows em seu chocolate quente? – Daniel perguntou, junto ao fogão, enquanto o garotinho saía de dentro do banheiro de modo desajeitado, tropeçando na barra da grande camiseta que vestia.
        - Sim, por favor.
        O garoto se sentou em uma cadeira branca. A mesma na qual, embora ele não soubesse, sua irmã havia sentado no dia anterior, ao conhecer os irmãos Hooper e comer panquecas sorridentes em seu café-da-manhã. De onde Benjamin estava, tinha um breve vislumbre da grande lareira que havia em um dos cantos da sala, onde o fogo crepitava, expelindo algumas fagulhas.
        - Quer também alguns biscoitos? Eu os fiz pouco antes de sair de casa. Gosto de cozinhar quando meu irmão não está por perto. Pelo ao menos assim ele não come tudo antes que eu sequer termine.
        Benjamin riu, enquanto Daniel abria o forno e recebia uma baforada de ar quente no rosto. Ele retirou um prato, com vários biscoitos quentes, repletos de gotas de chocolate quase derretidas. Ben teve que se segurar, para não se levantar correndo para pegar algum deles.
        - Você tem um irmão?
        - Sim. Ele é cinco anos mais velho que eu.
        - E são só vocês dois?
        - É...
        - Onde estão seus pais? – Ben perguntou, com a boca cheia de biscoitos.
        - Bom... Eu e meu irmão estamos um pouco velhos demais para morarmos com nossos pais. Saímos de casa há mais ou menos cinco anos. Houve uma briga entre nós, na verdade – Daniel murmurou, colocando cinco marshmallows enfileirados, lado a lado.
        - Vocês brigaram com seus pais?
        - Com nossa mãe, para falar a verdade. Nosso pai morreu na guerra, há muitos anos atrás.
        - E por que brigaram?
        - Bem... – O rapaz desfez a fila de marshmallows, e colocou três deles na caneca fumegante de Benjamin. Os outros dois, ele colocou em sua própria caneca – Eu e meu irmão fizemos escolhas que ela desaprovava. Queríamos algo para nossa vida, e não era bem aquilo que ela tinha em mente.
        - Você sente saudades?
        Ele se surpreendeu com a inocência do menino, ao perguntar aquilo, mas se surpreendeu ainda mais com sua própria resposta:
        - Todos os dias.
        - Eu sei como é. – ele acenou positivamente com a cabeça, parecendo muito mais velho e maduro do que realmente era – Também sinto saudades de mamãe e papai, embora não os tenha conhecido. Minhas irmãs me disseram que eles foram pro céu.
        - Sinto muito.
        - Tudo bem...
        O silêncio baixou-se sobre a sala de jantar dos Hooper. O fogo crepitava sonoramente na lareira, e Ben se pegou pensando em como estava tudo melhor agora, porque ele se sentia completamente seguro com Daniel. Assim como sempre se sentira com suas irmãs.
        - Daniel! – ele se sobressaltou – Minha irmã!
        - Acalme-se, Ben! Conte-me tudo o que houve.
        O garoto afundou-se novamente na cadeira, abraçando-se na camiseta de banda de rock que usava. Ele não sabia, mas naquele momento estava vestindo uma das blusas favoritas do suposto seqüestrador de sua irmã, Jesse Hooper.
        Com poucas e entrecortadas palavras, o garoto contou como estava feliz, enquanto patinava com sua irmã dentro de casa, pensando que seus problemas haviam acabado – Ben omitiu a parte de que não estava recebendo pensamentos hostis de sua irmã. Sua capacidade de recepção de pensamentos e sentimentos alheios poderia não ser bem aceita –; Ele contou quando ouviram a campainha ressoar como um grito de criança, e o quanto aquele homem, do qual ele havia esquecido o nome, parecia uma boa pessoa de início.
        Quando chegou à parte que encontrara o corredor principal vazio, sem nem sinal de sua irmã mais velha, o garoto começou a soluçar tanto que não conseguiu terminar de falar.
        - Beba... – murmurou Dan, preocupado – Vai fazer com que se sinta melhor.
        Ele obedeceu e bebeu um grande gole do líquido morno e adocicado.
        - Você irá me ajudar?
        - Claro. – murmurou o rapaz, tomando um longo gole de seu chocolate quente. Ele colocou a caneca vazia diante de si, e olhou para uma grande janela de madeira que havia atrás de Benjamin. A chuva continuava a cair violentamente lá fora. – Mas não acho que seja uma boa coisa sair agora. Meu irmão deve voltar logo, e ele poderá nos ajudar. Além do mais, esta chuva é um convite para uma pneumonia.
        - Você e seu irmão se dão bem?
        - Na maioria das vezes. Ele é incrivelmente irritante, insensível e sarcástico. Mas eu sei que se estiver com problemas, ele poderia atravessar oceanos apenas para me ajudar. – Daniel sorriu, olhando para as marcas que o chocolate quente havia feito em sua caneca. Benjamin acenou com a cabeça.
        - Eu gostaria de ter um irmão... Para brincar.
        - Você pode brincar comigo. Sempre que quiser, Ben.
        - Sério? – o garoto pegou mais um biscoito, deixando um rastro de migalhas em sua direção – Você seria como um irmão mais velho?
        - Exatamente.
        - E... – houve uma pausa entre algumas mordidas que o menino deu em seu biscoito – De quê você costumava brincar com seu irmão?
        Houve uma pausa da parte de Daniel. Ele começou a se lembrar de sua infância, e alguns momentos passaram rapidamente por sua mente. O Natal, no qual a Sra. Hooper costurava suéteres azuis para ambos os filhos, com suas iniciais estampadas. Os biscoitos de canela da Vovó Hooper. O cachorro manco e velho, chamado Spike, que fora a paixão de ambos os irmãos durante sua infância. As noites nas quais eles jogavam vídeo-game... Daniel tinha pouco mais de três anos nesta época, mas se lembrava vividamente de como tapava os olhos de seu irmão, para que ele desviasse aquele olhar vidrado da tela de TV. Jesse ria animadamente, enquanto tentava retirar as mãos de Dan de seus olhos, e ao mesmo tempo continuava apertando efusivamente a todos os botões coloridos de seu controle.
        - Nós costumávamos jogar vídeo-game.
        - Guitar Hero?
        - Não... – o rapaz respondeu, com uma sonora risada. – Se me lembro bem, jogávamos alguns de luta. Devo ter alguns CD’s velhos em minha mala. Você quer jogar?
        - Claro que quero!
        Ben se pôs de pé ao mesmo tempo em que Daniel. O menino sorriu, pois percebeu que em sua mente, Daniel Hooper também sorria. Pois havia tido a oportunidade de ser o irmão mais velho desta vez. A oportunidade de tomar conta de alguém, como Jesse sempre fizera.