quarta-feira, 25 de novembro de 2009

(Clowns)


        - O que você disse mesmo que era? – perguntou Jesse ao surgir na apertada sala de televisão da casa dos Hooper. Daniel amarrava seu tênis com uma grande concentração, o que indicava que seus pensamentos estavam longe dali; a televisão exibia uma repórter japonesa notificando que a polícia estava atrás do ‘sádico assassino’, nas palavras dela, que havia drenado o sangue de dezenove corpos de mulheres de oito a trinta anos.
        - Acontece todos os anos. Como um festival desta época do ano... Tem comida, o que já é o bastante para que você queira ir... Ruby vai, o que já praticamente te levou até lá. E também brinquedos, crianças, pessoas fantasiadas de palhaços...
        Foi o bastante para que Jesse começasse a rir de modo descontrolado.
        - O que foi?
        - Isto é sério? – O mais velho dos Hooper murmurou, com as mãos comprimindo a barriga dolorida e algumas lágrimas saindo de seus olhos. – Seriamente sério?
        - Olha, não estou te obrigando a ir... Se vai tirar uma com a minha cara, então...
        - Não é isto. Palhaços, Dan.
        - O que tem?
        - O que tem? Você não conseguiu dormir em sua própria cama por uma semana, após ler aquele livro do Stephen King, morre de medo do Bozo, e não consegue comer no McDonnalds... Quer que eu continue?
        - É legal para você me encher o saco?
        - Incrivelmente – Jesse respondeu com um sorriso.
        Daniel se levantou do sofá, com seu par de tênis já devidamente amarrados e andou pela sala, passando as mãos por sobre os olhos. Abriu e fechou a boca diversas vezes, antes que parasse finalmente para fitar seu irmão e falar:
        - Sabe, Jesse... Milhares de pessoas têm medo de palhaços.
        - Mas nenhuma delas está indo nesta comem..
        - Lá terá também uma roda gigante. – Daniel interrompeu o irmão – Sabe? Daquelas bem altas.
        - Desde que eu esteja com meus pés firmes no chão, eu estou bem.
        - Ouvi falar que Ruby acha aquelas rodas gigantes incrivelmente românticas, sabia?
        - Mentiroso.
        Daniel foi quem riu desta vez.
        - Quem está com medo agora, Jesse?
        - Não enche o saco – Jesse respondeu, andando de modo emburrado até a cozinha da casa apertada que os Hooper haviam alugado. Ele pegou as chaves da porta principal, que jaziam penduradas em um pequeno gancho de prata na parede, e pendurou ali as chaves de seu Plymouth. Estava destrancando a porta quando Daniel apareceu na cozinha, segurando seu casaco. O dia amanhecera nublado e hostil, mas não havia tido nenhuma previsão de chuva, e o clima parecia que se manteria consideravelmente estável.
        - Você vai mesmo? – Dan riu.
        - Vou. E se você se comportar, eu deixo que tire uma foto com Ronald McDonald.
        O sorriso de Daniel se desmanchou enquanto Jesse deixava o seu transparecer em seu rosto.
        Os dois andaram em silêncio pelas calçadas brancas de concreto, na direção que havia sido indicada por Roxanne naquela manhã. Daniel conseguira uma desculpa para que pudesse ir vê-la toda manhã enquanto ia ao trabalho: Tinha que comprar ingredientes para o café-da-manhã.

        “- Quer sair hoje, Danny? É o festival da Primavera, bem no fim da rua, em um lote vago que alugamos todos os anos. É só você andar reto, e logo irá ver uma roda gigante imensa. Eu e minhas irmãs vamos, e você pode levar Jesse. É bom para que vocês conheçam a vizinhança...
        - Seria ótimo. – ele respondera, naquela manhã.
        - Então eu te vejo lá. Começa as quatro da tarde. Até mais – Roxanne sorriu, e fez algo incrivelmente inesperado. Ao invés do beijo estalado na bochecha que ela dera em Daniel, na manhã passada, o beijo estalou nos lábios do rapaz.”

        - Como ficou sabendo desta comemoração? – Jesse quebrou o silêncio, colocando as mãos nos bolsos da calça. Viu seu irmão corar e abriu um sorriso satisfeito. – Hmmm... Roxanne, não foi?
        - Foi.
        - Quer dizer que Dan vai ver a namorada hoje...
        - Ela não é minha namorada.
        - Mas você queria que fosse.
        - Pelo ao menos eu tenho algum avanço em meu relacionamento. E quanto a você e Ruby? Frio como o Pólo Norte. – Daniel retrucou, enquanto uma brisa fria batia contra suas bochechas quentes e vermelhas.
        - Vá se ferrar.
        Os dois continuaram em silêncio por mais alguns instantes, até que viram a ponta de uma roda-gigante aparecer no horizonte. Mais alguns passos, e puderam sentir o cheiro da pipoca, ouvir as risadas de crianças e ver o gramado incrivelmente verde e cheio de vida se estendendo por sob os pés de dezenas de pessoas, como um carpete novíssimo.
        - O que Ruby queria te falar ontem?
        - Não lhe interessa.
        - Tudo bem. Não pergunto mais – Dan murmurou, erguendo os braços como se estivesse se rendendo. – Só estava curioso.
        O mais novo dos irmãos Hooper voltou-se novamente à passarela de concreto que se estendia inabalável diante dos dois. Deu alguns passos, até perceber que Jesse havia ficado para trás, com uma feição pensativa no rosto; Os lábios crispados.
        - Ela colocou um ponto final.
        - O que?
        - Ruby – ele murmurou, passando as mãos pelos cabelos – Colocou um ponto final em qualquer possível relacionamento que se criaria entre nós.
        - Com base em...?
        - Eu a beijei. Ontem. Pouco antes da confusão toda com Ben.
        Um momento de silêncio entre os irmãos, no qual Jesse se lembrava das exatas palavras que Ruby havia utilizado noite passada, para mandá-lo embora. “Um erro, Jesse, não irá se repetir”.
        - É, Jesse. – murmurou Dan, cauteloso com as palavras que usava – Nem todas são como Patty Martin.
        - Quem?
        - Em Ohio, junho de 2003.
        - Oh sim, Patty – Jesse abriu um sorriso sonhador – Eu lembro-me bem dela. Sabia que ela era professora de Ioga? Conseguia colocar os pés na cabeça.
        - E qual a utilidade disto?
        - Posso lhe citar pelo menos trinta e sete utilidades. Todas sexuais.
        - Informação demais, Jesse – Daniel exclamou, com uma careta perpassando seu rosto – Agora ficarei com imagens em minha cabeça.
        - O fato, Dan, é que eu estou abaixo do Pólo Norte. Tão abaixo que mal consigo enxergar meu alvo. – o rapaz murmurou, fungando, enquanto sentia uma coceira estranha em seu nariz.
        - Eu fico até feliz com isto. – Daniel confessou.
        - Você é um cretino.
        - Um cretino, nerd, que pela primeira vez conseguiu ganhar a garota primeiro. – o mais novo dos Hooper riu, enquanto seus pés tocavam a grama e ele atravessava um arco de flores que dava para o Festival da Primavera de Cary.

sábado, 21 de novembro de 2009

Chapter Three - Spring Festival


       
- Vamos logo!
Ruby, Roxy, os doces irão acabar! A pipoca irá acabar! – O pequeno garoto louro de nome Benjamin murmurou em gemidos. Ele segurou firmemente as mãos de uma de suas irmãs favoritas por entre suas mãos pequenas e de dedos pequenos e rechonchudos e caminhou em direção à porta da frente, puxando com toda sua força o braço de Ruby. A garota se deixou levar e caminhou lentamente com o irmão, sem perceber o que fazia. Tinha seus olhos fixos no topo vazio da escada.
        - Roxanne! – ela gritou, retirando delicadamente sua mão de entre os dedos quentes e macios de Benjamin e voltando para o centro da sala de estar, onde estava parada segundos antes.
        - Ai, acalmem-se, por favor! – A voz de Roxanne soou, seguida pela aparição de uma garota trajando uma toalha branca de banho surgindo ao topo da escada. Tinha algumas roupas seguras nos braços nus. - Eu não tenho roupa para ir.
        - Vamos, vamos, vamos! – Ben gemeu.
        - Como assim não tem roupa? Roxanne, você tem um armário cheio delas. E desde quando você se importou com a roupa que usava para ir ao festival?
        - Argh, eu vim até você para apresentar meu imenso problema e você só ajuda agindo como papai – a garota ao topo da escada ajeitou a toalha pequena que enrolava seus cabelos molhados e deu meia volta, sumindo de vista.
        - Queria que eu chorasse por sua repentina falta de roupas?
        - Seria bom – a voz da mais nova das gêmeas Ward ecoou pela casa.
        - Ruby! Vamos, por favor! Por favor, por favor!
        - Olhe, Roxy. Eu vou na frente, com Ben, e depois nós nos encontram...
        - Até parece! – Roxanne gritou, surgindo novamente ao topo da escada – Para você desaparecer com ele novamente? Nem pense nisso!
        - Quer, por favor, esquecer isto? Já faz uma semana – Ruby murmurou, passando as mãos por seus cabelos. – O próprio Ben já esqueceu.
        - É. Ben tem seis anos.
        - Por favor?
        - Esqueceremos isto. Quando você criar responsabilidades.
        - Quando eu o quê? – Ruby guinchou, irritada, ela subiu alguns degraus rapidamente e pôde ter alguns breves vislumbres do corredor iluminado por qual sua irmã surgia. Agora não havia mais toalha. Seus cabelos estavam molhados e penteados de um modo arrumado e ela trajava um short e sutiãs. Tinha duas blusas em mãos.
        - Você me ouviu. A rosa ou a azul?
        - Eu devo criar responsabilidades? E você então? É a pessoa nesta casa que menos pode me tratar com estas lições de morais. Quer o quê, Roxanne? Fazer com que eu me sinta culpada? Conseguiu. Mas chega! Pare de me tratar como criança.
        - Vou parar de te tratar como criança, quando você parar de agir como uma. – Roxy murmurou, descendo alguns degraus da comprida escadaria. Agitou duas blusas coloridas diante do nariz da irmã – A rosa ou a azul?
        - É, e você é uma pessoa muito... Roxy! Pare de sacudir estas malditas blusas e converse comigo!
        - Não gosto de conversar quando estou semi-nua. Apenas com rapazes. E só com bonitos. Diga logo se prefere a rosa ou a azul.
        - Rosa.
        - Obrigada, vou com a azul.
        As gêmeas trocaram sorrisos cínicos e Roxanne vestiu sua blusa azul.
        - Podemos conversar agora?
        - Podemos ir? – Ben choramingou junto à porta, olhando para as irmãs.
        - Prontinho, Benny! Vamos lá. – Roxy murmurou sorridente, descendo os degraus da escada aos saltos e ignorando completamente Ruby, que chamava seu nome de modo incrivelmente irritado. Ben deixou escapar um guincho de excitação enquanto outra de suas irmãs favoritas segurava firmemente em sua mão e saía pela porta da frente.
        - Você é impossível, Roxy. – Ruby murmurou cansada, enquanto passava as mãos pelos cabelos novamente, jogando-os para trás.
        - Perfeitos um para o outro...
        - O que?
        - Até mexem no cabelo do mesmo modo, quando estão nervosos. Perfeitos um para o outro. Você e Jesse...
        - Cale a boca.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Nota Autora: Trilha Sonora



terça-feira, 17 de novembro de 2009

(Thank You, Dan)


        As palavras dele foram acompanhadas pelo silêncio da dúvida de Benjamin.
        - Não vou com você – o menininho disse por fim, decidido.
        - O quê?
        - Você levou minha irmã! E vai me levar também.
        - Claro que não vou, Ben! – Ele exclamou, exausto, passando as mãos por sobre os olhos. – Eu e Ruby passamos uma hora procurando você pela chuva. Ela estava desesperada quando eu voltei para casa.
        O menino ergueu os dois grandes olhos azuis para o mais velho dos três que estavam naquela sala. Jesse Hooper estava cansado. Ele parecia cansado, parecia mal-humorado. Mas não se parecia com um seqüestrador. Ou com um mentiroso.
        A mente dele também estava limpa.
        - Tudo bem... Eu vou – ele murmurou de modo relutante. – Mas Dan vai com a gente.
        - Pode ser – Jesse deu ombros, dando meia volta rapidamente, e indo em direção à porta principal da casa dos Hooper. Abriu-a com um ranger suave, e o vento gélido e úmido da noite adentrou a casa, batendo contra a face dos três rapazes. Benjamin abraçou a si mesmo no imenso casaco que Daniel havia colocado sobre ele, em uma vã tentativa de se aquecer.
        A chuva caiu por sobre os três como um fino véu. Eles apenas perceberam o quão encharcados estavam ao chegar do outro lado da rua, diante da porta da casa das irmãs Ward. Novamente, a chuva caía com um rugido, que os impossibilitava de ouvir os gritos que evidentemente ecoavam por dentro das paredes daquela casa. Apenas ouviam palavras entrecortadas, como ‘Irresponsável’ e ‘Benny’.
        Ao ouvir a menção de seu nome, o próprio garotinho se adiantou. Reconheceu a madeira branca da porta de sua casa. Reconheceu a fechadura de bronze, e reconheceu o barulho que a campainha fez, quando Jesse a apertou.
        A porta se abriu, instantes depois, bruscamente. Os três encararam as duas figuras idênticas que surgiam diante deles. Daniel sorriu e corou ao ver Roxanne novamente, e Jesse encarou Ruby de um modo preocupado.
        - Ben! – a mais velha das gêmeas guinchou, estendendo os braços para o garotinho. Ele se desfez do imenso casaco de Daniel, jogando-o no chão atrás de si, e correu em direção à Ruby. A havia encontrado.
        - Ben! Oh meu deus, Ben! – Roxanne exclamou, com algumas lágrimas descendo copiosas por sobre suas bochechas. Ela se abaixou e o garoto soltou-se de Ruby por alguns instantes, indo abraçar sua outra irmã preferida.
        - Obrigada! Obrigada por encontrá-lo. – Ruby exclamou, erguendo-se novamente e dando dois longos beijos em ambas as bochechas de Daniel. O rapaz corou mais uma vez, e ela se adiantou para Jesse. – Obrigada.
        - Não precisa agradecer. Venha cá.
        Ele passou as mãos pelas costas dela, e a trouxe para si. Foi o melhor abraço que a garota já havia recebido. Melhor que qualquer abraço de suas irmãs, melhor que qualquer abraço de seus pais. Melhor que os abraços de James.
        - Estou cansado. – Benjamin ofegou por entre os braços de Roxanne. Ruby soltou-se de Jesse lentamente, e pegou o garoto no colo com carinho. Nunca mais o deixaria escapar de seus dedos daquele modo.
        - Vamos, eu vou te colocar na cama.
        Ela deu alguns passos em direção à grande escada que se estendia diante dos cinco presentes naquela sala, com Ben aninhado de modo sonolento contra seu peito, e se virou.
        - Jesse... Posso falar com você em particular?
        Nenhum dos presentes esperava aquilo. Daniel olhou para Ruby e então para Jesse, com um semblante confuso passando por seu rosto. Roxanne olhou para a irmã por sobre o ombro direito, como se houvesse acabado de ver uma assombração. Jesse olhou para ela, apontou para si mesmo e ergueu as sobrancelhas, como se houvesse mais alguém naquela sala chamado Jesse, e como se ele tivesse total certeza de que ela estivera falando com este outro.
        - Claro. Hm... Já volto...
        Ele passou ao lado de Roxanne, que se erguia lentamente diante de Daniel, e passou a mão pelo ombro dela. Trocaram um olhar consolador, e então ele andou em direção à Ruby, que já estava começando a subir as escadas em direção ao quarto de Benjamin.
        Quando ele começou a subir as escadas, olhou por sobre seu ombro esquerdo e seus olhos se encontraram com os de seu irmão caçula. “Console-a”, o mais velho murmurou, sem fazer som algum. O mais novo revirou os olhos, enquanto o Jesse lhe lançava uma piscadela, virando-se em seguida para frente e subindo as escadas logo atrás de Ruby e Ben.
        “Típico” Daniel pensou, fitando Roxanne por alguns instantes. Demorou um pouco para que ele percebesse que ela ainda chorava de modo silencioso, encolhida contra o vão da porta. Pensou no que poderia fazer sem se sentir culpado por estar abusando da fragilidade da menina.
        - Ei... – ele murmurou. Roxanne ergueu os olhos.
        Daniel estendeu um de seus braços e tocou com as costas de uma das mãos na face da menina. Limpou suavemente suas lágrimas, e sussurrou:
        - Não precisa chorar mais.
        - Eu achei que nunca mais o veria – ela soluçou, e mais lágrimas saltaram de seus olhos.
        Daniel não percebeu o que estava fazendo, até que sentiu o corpo da garota contra o seu. Sentiu o coração dela, batendo de modo falho contra seu peito. A havia abraçado sem sequer perceber isto.
        - Vai ficar tudo bem, Roxanne.
        Ela gostava de como ele pronunciava seu nome completo.
        - Obrigada, Danny. Obrigada mesmo. – ela murmurou, e sua cabeça recostou por sobre o ombro do rapaz. Ele corou furiosamente ao sentir a respiração calma da menina contra seu pescoço. E novamente, percebeu o que estava fazendo apenas alguns segundos depois.
        Ele passou as mãos carinhosamente pelos cabelos lisos e castanhos da menina e parou para escutar um barulho contínuo que saía de seu peito. Acelerado. Assim como o que saía do peito dela. Passou uma das mãos pelo rosto da menina, e segurou-o com uma delicadeza incomum para Daniel.
        Ele percebeu o que estava fazendo. Mas não parou. Puxou o rosto da menina lenta e levemente contra o seu.
        - Estou interrompendo algo? – ouviram uma voz divertida e rouca, pertencente a Jesse. Logo ele apareceu com a cabeça perto do casal. Roxanne se separou rapidamente do rapaz, corando de modo intenso, e passando as mãos nos cabelos.
        - Não, Jesse. – Daniel murmurou, com uma onda de mau-humor visível perpassando seu rosto. Cruzou os braços e recostou-se no vão da porta.
        - Ah... Pois parecia que eu estava interrompendo algo.
        - O-onde está Ruby? – a garota perguntou, ignorando a última frase de Jesse. Mantinha seu olhar fixo no chão, e suas bochechas não paravam de esquentar. O mais velho dos irmãos olhou divertido de um para o outro, e disse:
        - Fazendo Ben dormir. Tiveram uma noite cheia hoje...
        - É... – ela respondeu.
        E um silêncio constrangedor se instalou. Dan e Roxanne não ousavam sequer se encarar. Estava muito claro para os dois o que teria acontecido, caso o irmão mais velho do rapaz não houvesse aparecido. Claro demais.
        - Bom... Acho que temos que ir embora. – o caçula murmurou, coçando a cabeça de modo encabulado, enquanto fixava seu olhar em qualquer lugar que não o lembrasse dos olhos da garota. – Boa noite, Roxanne.
        - Boa noite, Dan... Até mais, Jesse.
        Jesse acenou rapidamente com a cabeça, dando as costas com o irmão, e descendo as escadas de cimento. Chegando em seu último degrau, ele se permitiu gargalhar, ao ouvir finalmente o estalido da porta se fechando atrás de si.
        - E então... Você e Roxy, uh?
        - O que tem? – o outro respondeu carrancudo, colocando as mãos dentro de seus bolsos do casaco. – Eu não entendo qual é a sua, Jesse. Como você me manda consolar a menina, e depois aparece assim, quando está evidente que algo iria acontecer?
        - Você ficou bravo – ele gargalhou.
        - Não fiquei.
        - Quer que eu espere aqui? Vou olhar para lá, prometo. E você pode se despedir como quiser... – O mais velho murmurou, entre risos, enquanto apontava com o polegar para a porta que havia acabado de se fechar por trás deles.
        - Jesse...
        - Não, sério. Vou esperar aqui.
        Dizendo isto, Jesse sentou-se no degrau úmido de cimento. A chuva violenta havia agora se transformado em apenas respingos. O céu estava incrivelmente escuro, sem nenhuma estrela, e também sem qualquer vestígio da lua.
        - Não estou brincando, Jesse.
        - É, eu sei. Eu também não.
        - Vamos embora.
        - Você vai falar com ela, ou eu vou ter que lhe arrastar até aquela porta?
        - Eu não tenho nada para falar com ela.
        - Nerd.
        - Cretino.
        - Vá logo.
        - Não, eu vou para casa. – Daniel murmurou irritado, dando as costas para o irmão.
        Parou alguns passos depois, e voltou, praguejando baixinho.
        - Mudou de idéia?
        - Não. Você está com as chaves.
        - Sinto muito. Vá falar com ela.
        - Vou dizer o quê?
        - Bem... Vocês não precisam necessariamente falar.
        Incrivelmente irritado, Daniel subiu os degraus ao lado de seu irmão. Fitou a porta de madeira diante de si por alguns instantes, pensando no que realmente falaria a ela. Mal sabia ele que Roxanne estava do outro lado da fina porta de madeira, recostada, e pensando no que poderia haver acontecido de Jesse não houvesse chegado.
        Ele bateu à porta. Ela a abriu quase que instantaneamente.
        - Danny? – ela piscou os olhos, sinceramente surpresa.
        - Bem... Eu vim me despedir. Quero dizer, boa noite. É isto.
        - Boa noite para você também... – ela ergueu as sobrancelhas, confusa.
        - Bom... Então... A gente se vê.
        Ele girou por sobre seus calcanhares, e antes que Roxanne fechasse totalmente a porta, ele a empurrou de volta.
        - O quê...?
        - Nosso encontro... – ele murmurou, corando – Ainda está de pé?
        - Claro! – ela murmurou, com um sorriso brotando levemente em seus lábios.
        Ele sentiu vontade de beijá-la.
        - Bem... Então tudo bem. Boa noite.
        - Boa noite.
        Mais uma vez, ela empurrou a porta lentamente. Daniel deu meia volta e desceu o primeiro dos degraus de cimento, dando-se conta que seu irmão havia ido embora. Ele voltou mais uma vez e empurrou a porta que Roxanne mal havia recostado. Desta vez com mais força.
        - O quê houve, Danny? – ela perguntou.
        - Não fale – ele murmurou, segurando o rosto delicado da garota com as duas mãos, e pressionando lentamente seus lábios contra os dela.
        Do outro lado da rua, diante da porta da casa dos Hooper, Jesse olhava por sobre o ombro e fitava seu irmão, que beijava Roxanne de modo ardente. Ele riu e empurrou a madeira da porta, que abriu com um rangido.
        - E eu nem tranquei a porta. – ele murmurou para si mesmo, rindo e entrando em sua casa. – Dan, você pode ser um nerd completo, mas aprende rápido.