sábado, 26 de setembro de 2009

Chapter Two - Run, Benjamin, Run!


        Ben estava começando a achar estranha toda aquela demora de Ruby. Inicialmente, quando chegara à porta e vira o rapaz de cabelos louros-queimados e olhos cor de oliva conversando com sua irmã, o garoto havia pensado que James voltara para casa. Seria talvez ali o fim de todos os seus pesadelos, ele deixaria de perceber o quão triste sua irmã estava, e pararia de perceber pensamentos hostis vindos dela.
        Mas Jesse não se parecia em nada com James. Tinha um jeito mais rebelde, selvagem. James era aquela espécie de namorado de colegial, com o qual a garota se casa, tem dois filhos e vive feliz para sempre, de acordo com o sonho americano. Jesse era exatamente o tipo de uma noite – e uma noite apenas. Mas para Ben eles eram iguais.
        Isto por que olhavam para Ruby do mesmo modo. E ela retribuía o olhar de Jesse como já havia retribuído o de James algum dia.
        O garotinho sacudiu seus cabelos bagunçados e rebeldes, que estavam grudando contra sua testa suada, e olhou por sobre seu ombro. Conseguia ver o caminho que terminaria na porta da frente, mas sua visão era incrivelmente limitada. Os pensamentos de sua irmã também não se faziam mais presentes. Nada de como os olhos de Jesse eram bonitos, ou como ela se sentia culpada pela morte de James, mesmo tendo se passado três anos após tudo isto.
        O silêncio o estava assustando.
        E ele havia se cansado de brincar de patins, queria brincar de Peter Pan e talvez chamar Jesse para interpretar o Capitão Gancho com ele, enquanto Ruby seria a querida fada Sininho, companheira e...
        A entrada estava vazia.
        (Desajeitada?)
        A porta entreaberta batia contra seu suporte, balançando e rangendo assustadoramente com o a força do vento, que entrava gélido pela grande fresta da porta, e batia na face avermelhada de Ben.
        - Ruby? – a voz do menino não passava de um sussurro, abafado pela chuva lá fora.
        Ele fechou os olhos por um momento, dando um passo em direção à paisagem chuvosa e deprimente que se estendia diante dele. Tentou pensar em Ruby, ouvir alguma coisa, algum pedido de socorro. Pensou também em Jesse.
        E abriu os olhos novamente.
        “Ele a levou. Aquele homem mau. Levou minha irmã de mim. Eu nunca mais...”
        Olhou para os patins da irmã, caídos ao lado dele e para a calçada de concreto que se estendia defronte a ele, alguns respingos frios alcançando agora seus pés descalços. Ergueu os olhos para o cabideiro de mogno, que sempre ficava ao lado direito da porta. O impermeável amarelo que ele sempre usava em dias de chuva, quando passeava, estava lá; com os braços semi-abertos, como se o estivesse chamando.
        (Vista-se, Ben. Vá resgatar Ruby.)
        - Eu não deveria sair de casa – ele murmurou timidamente.
        (E quanto à sua irmã?)
        - Ela... – os grandes olhos azuis do menino fitaram novamente a chuva acinzentada e violenta que caía lá fora – Onde ela está?
        (Não sei. Onde poderia estar? Com Jesse talvez... Ele a levou de você, Ben.)
        - Pare!
        (Ela pode estar machucada agora. Ou pior...)
        - Por favor, pare!
        (Morta...)
        - Não! – Ben gritou, ajoelhando-se diante dos patins de Ruby. O vento gelado estalou em seu rosto, com a força de um tapa, e as mãos dele foram em direção às rodas esverdeadas, que permaneciam em um movimento lento e infinito.
        (Morta, Benjamin...)
        - Pare com isto! Pare, pare! – o menino gritou, com algumas lágrimas escorrendo por suas bochechas sardentas. Abriu os olhos arregalados para o piso de concreto diante dele, e viu alguns respingos de sangue, espalhados próximos aos patins que ele agora segurava.
        (Morta... Ben, por quê você não vai salvá-la?)
        - Eu...
        (Você é o homem da família. Vá.)
        - Tudo bem – ele soluçou. Ergueu-se do chão rapidamente e puxou o impermeável amarelo para si. O cabideiro de mogno balançou por sobre seus pés. O menino olhou mais uma vez para a chuva lá fora antes de vestir o impermeável por sobre a roupa que usava. Enfiou rapidamente os pés em galochas vermelhas, e passou o capuz amarelo por sobre sua cabeça loura.
        (Você é um bom garoto, Benjamin)
        - Obrigado.
        Ele olhou rapidamente para uma pequena poça que se formava próxima a ele. Havia algo mais, além do reflexo de um menino pequeno vestindo um impermeável amarelo. Uma garota com os mesmos cabelos dourados do menino, e olhos muito grandes e azuis enfeitando-lhe o rosto. Ela sorriu e acenou com sua cabeça.
        (Vá salvá-la, Ben)
        - Ok. Obrigado, Anna Molly.
        Ele passou suas mãos pelo capuz amarelo por sobre sua cabeça mais uma vez, e correu em direção à chuva fria, que o engoliu com sua névoa após menos de um minuto.
        A menina de nome Anna Molly acompanhou com os olhos enquanto o menino desaparecia na imagem cinzenta e disforme que a chuva formava. Uma vizinha estava olhando para a porta da família Ward naquele exato momento, e poderia jurar que havia visto uma garota saindo de dentro de uma poça de água. Uma menina loura, de cabelos compridos e vestes negras.
        Tinha pouco menos de seis anos de idade.
        Como se soubesse estar sendo observada, a garota olhou por sobre o ombro, fitando os olhos da Sra. Kapplebal. A mulher de sessenta e dois anos caiu morta no mesmo instante, com o sangue explodindo de seus olhos.
        Anna Molly virou-se para a chuva. Benjamin Ward havia desaparecido completamente atrás do vento frio e das gotas pesadas de água. Ela se permitiu rir. Não rindo como uma pessoa qualquer riria ao ouvir uma piada. Rindo como Hannibal Lecter faria enquanto abria a barriga de algum paciente, para comer um de seus rins.
        E então ela voltou para dentro da poça de água, como se entrasse em uma banheira quente – primeiro desceu a perna direita, depois a esquerda, e em um movimento rápido, Anna Molly desapareceu em uma poça de água no chão de concreto defronte a residência dos Ward.
        A roda dos patins de Ruby pararam instantaneamente.

2 comentários:

  1. uouuu bem que vc disse que era tenso pra caramba! eh mesmo mais amei. a vizinha morrendo ou fiquei de cara! To adorando a historia, e ler assim e muito bom pq deixa agente com vontade e nao cansa de mais. espero que esse vc nao desista viu... jah ta terminando de escrever ele ai?
    bjs e vamos marcar algo antes deu mudar!
    lov you kiss

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  2. Caramba... você tem um talento e taaanto pra escrever, esse livro é incríveeeel!! Tô amando mesmo!!

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