quinta-feira, 24 de setembro de 2009

(Little Ben)




        - Ruby? Ruby, acorde...
        O sol entrava timidamente por entre algumas persianas que estavam na janela. Ruby se moveu sobre os lençóis amarrotados com estampas de carros de corrida e sentiu um volume, abaixo de suas costas. Abriu os olhos vagarosamente e se deparou com um garotinho a olhando. Lindo e calmo, como um anjo.
        - Bom dia, Ben.
        - Bom dia – ele respondeu, com um sorriso – Vamos brincar?
        - Já? Quantas horas são? – Ruby se sentou na cama rapidamente, com os cabelos bagunçados, e suas roupas amarrotadas. Ela olhou para o local no qual estava deitada, momentos atrás, e viu o exemplar de Moby Dick aberto na cama, com algumas de suas folhas amassadas.
        - São onze horas. Vamos brincar, Ruby, por favor!
        - Claro, Ben. Por que você não vai ver um pouco de televisão, enquanto eu tomo um banho, bem rapidinho? Escolha do que vamos brincar.
        - Tudo bem! – ele disse, saindo rapidamente do quarto. Alguns momentos depois, a garota pôde ouvir seus passos rápidos, enquanto ele corria escada abaixo. Foram seguidos por um arrastar de uma cadeira e o barulho da televisão quando era ligada.
        Os passos de Ruby em direção ao chuveiro eram cansados. Como se ela não houvesse sequer pregado os olhos noite passada. Durante várias vezes, em seu banho de água fria, ela se pegou sonhando acordada. Com os vampiros, com o corte avermelhado que cicatrizava em sua barriga, com Jesse e Daniel Hooper.
        Quando desceu as escadas, com os cabelos presos no topo de sua cabeça, e seu vestido azul-marinho balançando a cada passo que ela dava, Benjamin estava sentado de modo bastante comportado, enquanto assistia ao mais novo episódio de seu desenho favorito.
        - Você chegou! – ele exclamou, alegre, assim que a irmã se sentou, a seu lado, lhe dando um beijo em sua bochecha.
        - E então? O que vamos fazer?
        - Eu queria patinar. – ele murmurou, desligando a televisão ao apertar um botão vermelho no controle remoto. Ruby balançou a cabeça lentamente, pensando sobre a possibilidade. Olhou para uma grande janela atrás de si, na qual as gotas de chuva escorriam, lentas, pelo vidro, e murmurou:
        - Está chovendo, Benny
        - Nós podemos patinar dentro de casa, certo? Como quando eu era pequeno.
        - Você ainda é pequeno – a garota riu, envolvendo o garotinho com seus braços. – E eu não sei se Suze iria gostar de saber que arranhamos o piso dela.
        - Por favor, Rub – Ele recostou a cabeça no peito dela, carinhosamente. Ruby balançou a cabeça novamente, pensando no que diria. Pensou em quanto tempo ela não fazia algo assim para Benjamin. Estava muito ocupada cuidando de suas feridas pessoais.
        - Tudo bem, tudo bem... Ajude-me a arredar estes móveis!
        Eles arredaram o sofá, o grande móvel que ficava abaixo da televisão acoplada na parede, as mesas de canto e poltronas. Enrolaram o tapete em um dos cantos da sala, e fizeram um caminho extenso até a sala de entrada, que era praticamente livre para o trânsito dos dois.
        Benjamin correu até a porta dos fundos, até uma varandinha cheia de folhas caídas. Um lugar frio e úmido por causa da chuva. Em um canto mais escurecido, ele pegou dois pares de patins – um que era incrivelmente pequeno, e o outro de um tamanho normal. Ruby o esperava sentada no chão liso e escuro de madeira da sala.
        Quando abotoaram os patins, a garota se levantou vagarosamente, tomando um extremo cuidado para que não se estatelasse ao chão. Apoiou-se uma ou duas vezes em uma parede branca a seu lado, mas conseguiu se equilibrar por sobre os joelhos trêmulos e repletos de cortes avermelhados, que ainda não haviam cicatrizado e eram resultados da batida com o Plymouth Fury dos irmãos Hooper.
        Ben não precisou de ajuda para se pôr de pé. Havia tido bastante tempo para praticar, uma vez que ele não ia à escola, e tinha quase toda a tarde livre para fazer o que quisesse, desde que não ousasse sair de casa. Ele estava realmente ficando bom naquele negócio de patinar dentro de casa, mesmo fazendo-o escondido de Suzannah.
        O tempo pareceu congelar para Ben e Ruby. Parecia que tinham voltado há três anos atrás, quando o garotinho tinha apenas cinco anos, e seus pés mal cabiam em patins. Parecia que estavam só os dois em um planeta vazio, vivenciando um dia que jamais teria que acabar. Era Benjamin e Ruby, Ruby e Benjamin
        (E James)
        Brincando, rodopiando, caindo no chão.
        O barulho da campainha soou desta vez como um grito que rasgava a o sonho no qual Ruby Ward e seu irmãozinho haviam mergulhado. Lembrava à garota uma noite há três anos atrás, que ela havia se guardado em uma gaveta profunda e trancada de sua mente. Apenas se lembrava do grito, do gosto salgado das lágrimas. E do sangue que empapava seu vestido.
        - Vou ver quem é. Fique aí, Ben.
        E ela foi, apoiando-se nas paredes, tomando cuidado para não cair dolorosamente no chão. Demorou um pouco a chegar até a porta, e receou que quando a abrisse, não houvesse mais ninguém esperando-a.
        Mas havia alguém lá.
        Ruby constatou isto, quando ao abrir a porta quase caiu sobre a pessoa que a estava aguardando.
        - Má hora? – perguntou Jesse Hooper.
        - Ah, Jesse... Oi.
        - Como você está?
        - O que você quer?
        - Calma, eu nem fiz nada ainda – ele murmurou, abrindo um imenso sorriso e erguendo as duas mãos como se estivesse se rendendo para alguém – Apenas vim ver como você estava.
        - Claro... Muito gentil de sua parte – ela murmurou, sarcástica.
        Ela mantinha sua mão firme por sobre a maçaneta fria, mas não sabia se era por sua vontade de fechar a porta na cara do rapaz, ou se precisava de algo para não escorregar sobre os patins, e ir parar nos braços dele.
        - Gentileza é meu nome do meio.
        - E então, Senhor Gentileza... A que veio, afinal?
        - Já disse, queria apenas ver se você estava bem.
        - Olhe, eu realmente não acho que seja uma boa hora para você...
        A garota não chegou realmente a terminar sua frase. Uma criança de cabelos louros e olhos azuis apareceu à porta, usando um par de patins gastos e segurando-se na saia do vestido de Ruby.
        - Quem é ele?
        - Oi Ben... Este é Jesse, ele está morando naquela velha casa em frente... Mas... Ele já estava de saída, certo, Jesse?
        Ela o olhou por cima do ombro, de um modo extremamente significativo, no que ele encarou o garotinho inocente por alguns segundos e acrescentou:
        - Claro. Eu...
        - Você não pode ficar e brincar com a gente? – Ben perguntou, como se aquilo fosse a coisa mais simples do mundo. Jesse o fitou mais uma vez, e percebeu que aquele ar imponente por sobre sua inocência aparente lembrava-lhe Ruby.
        - Ele provavelmente tem mais o que fazer, Ben.
        - James brincava comigo. Por que Jesse não pode brincar também?
        Ruby se sentiu falhar, e Jesse percebeu isto.
        - Bom... Qualquer dia destes – ela murmurou, jogando sua franja para trás com uma das mãos – Ele poderá vir brincar conosco, meu amor. C-como James.
        Sua última frase fora quase um soluço.
        Jesse achava incrivelmente curioso o efeito que aquele nome fizera por sobre aquela menina. Estava encarando-a, com um leve fascínio, quando ela o percebeu. Passou a mão por sobre os cabelos louros de Ben e sorriu.
        - Vá brincar. Eu já estou indo.
        O menino não demorou muito, para direcionar um breve aceno à Jesse e deslizar novamente sobre as rodas dos patins. O silêncio que se instalou entre Ruby e Jesse foi o mais longo, e incrivelmente desagradável de todos os que jamais se instalariam.
        - Eu acho que é melhor... Você ir.
        - Tudo bem. Eu só queria primeiro lhe entregar... Isto.
        Ele levou uma de suas mãos até as costas, colocando-a dentro de um dos bolsos de trás de seu jeans surrado. Retirou então o pequeno exemplar de “Romeo and Juliet” que havia ficado para trás na casa dos Hooper, no dia anterior, quando Ruby saiu de lá furiosa. Jesse subiu o único degrau que o separava da garota rente à porta, e ela pôde perceber o quão alto ele era diante dela. Seu nariz alinhava-se perfeitamente com o pomo-de-adão do rapaz.
        A mão de Jesse se estendeu em direção à ela, com a palma virada para cima e o livro repousado sobre ela.
        E a mão dela se estendeu também, por sobre o livro. Ambos pensaram e como seria tocar a mão um do outro. Mas não chegaram a isto. Os dedos de Ruby deslizaram por sobre a capa grossa de couro de seu pequeno livro, e ela o retirou lentamente da mão de Jesse. Trazendo-o para junto de si.
        Ela insistia em não olhá-los nos olhos.
        Não com aquela proximidade.
        - Tenha uma boa tarde, Jesse. – ela murmurou com alguma dificuldade, se afastando lentamente e tentando deslizar para dentro de casa por sobre as rodas de seus patins. Desequilibrou-se cerca de dois passos depois. E, não fosse pelos reflexos extremamente rápidos que Jesse possuía, ela teria machucado pouco mais que um joelho, que ralou contra o chão de cimento.
        - Você deveria ter mais cuidado. – O rapaz abriu um largo sorriso, segurando o corpo da garota contra o seu. Ela tentava se erguer, apoiada nele, enquanto pensava que não calçaria patins novamente tão cedo.
        - Obrigada. – ela murmurou, quando conseguiu novamente se equilibrar sobre os pés, sem ajuda dele. Olhou para o joelho, que emanava ardor a seu corpo, e viu o sangue escorrendo livremente por suas pernas brancas, manchando-as com seu tom rubro característico.
        - Acho que deveríamos ir limpar este machucado. – o rapaz observou.
        - Tenho alguns medicamentos no armário da cozinha. Mas pode deixar, eu...
        - Fique quieta, Ruby. Eu vou entrar e fazer um curativo neste joelho, querendo você, ou não.
        Após dizer isto, ele escancarou rapidamente a porta de madeira escura da casa e se abaixou sobre os pés da garota. Desabotoou os patins pensando em prevenir algum acidente posterior que estes poderiam causar à menina, e passou o braço em torno de sua cintura, levando-a lentamente até a cozinha.
        Deixando aberta a porta. Aberta para a chuva que caía fria sobre o asfalto.

2 comentários:

  1. aêêê Post... adorei este... me deu uma saudade de andar de patins, eu fazia isso com meu pai! to doida pra ler os proximos, eu nao sei quanto a vc mas jah fico doida quera que esse livro seja puplicado pela 1 vez eu tenho a impressao de que ter ele nas maos pagina por pagina ia ser maravilhoso!!!! Miga eu prometo que mesmo quando eu ficar mais velha e quase nao tiver tempo os seus livros eu vou querer ler TODOS!!! vou ter todos os exemplares de cada um, pq eu sei que vc vai ter um monte!kakakkaak
    bjsz
    lov you!!!

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