quarta-feira, 23 de setembro de 2009

(Meet the Ward Family)



       
- O que há de errado com você? – Roxy abordou sua irmã assim que a porta da casa delas se fechou, com um baque surdo. Ruby fitou-lhe demoradamente, como se estivesse analisando sua própria imagem no espelho. Em seguida, murmurou:
        - Eu não dormi com Dan. Muito menos com Jesse.
        - Acha que eu não sei? - as outras quatro irmãs olhavam curiosas para a discussão delas, sem saber se interferiam, ou se deixavam que conversassem a sós. – Você é incapaz de se divertir, Ruby! Pelo ao menos desde que...
        Roxy calou-se de súbito.
        - Desde que o quê?
        - Deixe para lá.
        - Desde que James morreu, certo?
        - Chega. Vocês duas – Elizabeth, a mais velha dentre as seis garotas, resolveu interferir antes que aquela simples discussão acabasse em algo pior. Sabia o quão complicada era a relação entre Ruby e Roxy, tão parecidas exteriormente, e completamente diferentes interiormente. Água e Óleo.
        A mais velha dentre as gêmeas Ward, Ruby, olhou para o piso de madeira escura da sala, enxugando os olhos que insistiam em ficar úmidos. Ela respirou fundo olhando para Elizabeth, e em seguida pousando seu olhar em Roxanne. Esta parecia arrependida do que havia dito.
        - Noite passada – a menina começou – eu encontrei aqueles dois quando estava voltando para casa. Tinha ido investigar os assassinatos.
        - Oh-Meu-Deus! – Suzannah atravessou a sala, alarmada – Você é louca? Foi sozinha? Naquela chuva. Meu Deus, Ruby! Você poderia ter se machucado muito, ou algo pior! Nós não temos nem idéia de com o quê estamos lidando.
        - Bom... – Ruby continuou, ignorando o modo maternal como Suzannah a havia abraçado naquele momento – Eu descobri o que é.
        - E...? – Lucy questionou.
        - Não era um espírito, como pensávamos.
        - Como sabe disto?
        - Bem, tinham presas. Que eu saiba, espíritos não costumam ter presas.
        - Um vampiro? – Roxy indagou
        - Um covil cheio deles.
        Todas ficaram quietas por um momento, encaravam-se sem saber ao certo o que poderiam dizer para amenizar a situação. Quem disse algo foi Chelsea, que passou a mão por seus compridos cabelos cor-de-mogno, e ajeitou os óculos que sempre usava.
        - Mas... Eu me lembro que nós... Nós checamos o local, Ruby.
        - Desde que o mundo é mundo, vampiros sabem se esconder, Chelsea – Lucy murmurou, mordendo a ponta de uma de suas unhas.
        Mais um silêncio, no qual as irmãs Ward se mantiveram apreensivas. Concordaram com a cabeça com o que Lucy havia dito, e Chelsea massageou suas têmporas, aparentando-se cansada. Ruby olhou para os pés, e sentiu novamente um formigar em sua barriga. Imaginou se estaria sangrando.
        - Bem... Acho que podemos voltar lá, daqui alguns dias. Mas todas juntas, você entendeu Ruby? - Suzannah lançou um olhar extremamente maternal, para a irmã, que deu ombros e olhou calada para a janela. Não demorou muito a se manifestar.
        - Imagine se eles soubessem – ela murmurou para si mesma enquanto olhava pela janela a seu lado, avistando a velha casa na qual imaginava que os Hooper estariam agora conversando, ou terminando suas panquecas.
        - Se soubessem o que? Que deixamos o mundo melhor para eles?
        - Por Deus, Suze! Você fala como se fôssemos super-heroínas. Nós seis sabemos muito bem o motivo de sairmos quase todas as noites, atrás de criaturas que muitas pessoas não saberão da existência nem em seus piores pesadelos.
        - Não estamos nessa apenas para vingar a morte de nossos pais. – Lucy protestou.
        - É, temos que vingar a morte de James também. E encontrar a criatura que matou todos eles. – Roxy disse amargamente. – Eu concordo com Ruby... Se Dan e Jesse soubessem disto... Acho que nos achariam loucas.
        - Todos nesta cidade acham – Lucy deu ombros – Eu ando com os esquisitos da universidade. Acham que somos um bando de bruxas, e que dançamos em volta de gatos mortos durante a madrugada.
        Ruby e Roxy riram.
        - Eu acho que, diferente dos outros desta cidade, eu me importaria verdadeiramente se eles nos achassem loucas – A mais nova das gêmeas murmurou.
        - É, eles são charmosos – Lucysorriu.
        - Não apenas por isto. – Roxanne protestou. – Eu gostei deles. O mais novo parece ser sensível e... Não sei, gentil.
        - Chega de falar nos Hooper – Ruby murmurou, desconfortável.
        - Na verdade, Ruby, eu estava me mordendo de vontade de lhe perguntar o que houve, já que não chegou nem perto de sexo.
        - Eu fui atropelada. Por um Plymouth Fury 1958.
        - Meu Deus – Roxanne gritou – Eu sou apaixonada por este carro, desde que assisti àquele filme, como se chama?
        - Christine, o carro assassino. – Chelsea murmurou.
        - Exato. Oh, como eu gostaria de ser atropelada por um Plymouth. Ainda mais com aqueles dois dirigindo.
        - É, você apenas diz isto por que não tem noção da dor que eu estou sentindo.
        - Oh céus! – Elizabeth exclamou, andando apressadamente até a irmã machucada – Onde eu estava com a cabeça? Como você está? Onde dói?
        - Eu estou bem, Beth. Sério. Estou cansada, e é só.
        Mas a garota não ouviu. Ela deu meia volta, murmurando para si mesma o que deveria fazer em um caso destes, e subiu as escadas com passos rápidos, indo em direção ao escritório, onde pegaria seu material de médica.
        A saída de Elizabeth da roda que as irmãs formavam pareceu quebrar uma espécie de elo que segurava todas elas ali. Chelsea massageou as têmporas novamente, e subiu a escada, desaparecendo por onde Elizabeth havia ido. Suzannah perguntou a todas se elas estavam com fome, e sem esperar uma resposta, foi até a cozinha. Roxanne e Lucy olharam para o teto, cansadas, fitando um imenso lustre de cristal que havia sobre elas, imponente.
        - Preciso fazer meus deveres – Lucy murmurou. Em seguida ela subiu as escadas, e foi seguida por Roxanne, que não achou necessário dirigir qualquer palavra a sua irmã.
        Vendo-se sozinha na sala, Ruby fitou também o lustre de cristal por sobre sua cabeça. Lembrou-se do quanto sua mãe adorava admirar aquele lustre nos domingos chuvosos.
        Passando as mãos pelos cabelos, enquanto sentia um comichão esquisito no nariz, a garota subiu as escadas por onde quase todas as suas irmãs haviam desaparecido alguns segundos antes.
        Seu quarto estava do mesmo modo que ela havia deixado. A porta fechada, um cheiro de lavanda pairando pelo ar, e algumas de suas roupas espalhadas pelo chão, formando uma trilha desarrumada até a cama com sua colcha branca bagunçada. Suzannah provavelmente teria um AVC só de entrar naquele local.
        Ela estava terminando de pentear seus cabelos, diante de uma penteadeira branca que havia pertencido à sua mãe quando viva, quando viu uma figura baixa e loura, com cachos bagunçados em sua cabeça, atravessar a porta de seu quarto e a abraçar pelas costas.
        - Oi Benny... O que houve? – ela passou as mãos pela pele macia e quente de seu irmãozinho menor. Ele deu a volta em torno dela, ficando de frente para o que seria uma de suas irmãs favoritas, embora ele não dissesse isto em voz alta.
        - Onde você estava?
        - Bem... – ela começou a falar, passando o dedo pelas bochechas coradas e salpicadas com sardas do garoto – Eu fui caçar ontem à noite.
        - Você me deixou com medo.
        - Por quê? Há algo em seu armário, meu amor?
        - Não. Suze já matou o que havia no meu armário, semana passada. Eu fiquei com medo, pois detesto quando você vai caçar e não aparece no dia seguinte, na mesa do café-da-manhã.
        - Ah Benny – ela murmurou, abraçando o menino. – Eu não vou a lugar algum esta noite. E nem amanhã. Vamos ficar o dia inteiro juntos, podemos fazer o que quisermos.
        - Você não vai trabalhar?
        - Não. Eu me machuquei noite passada. Mas não foi o monstro que eu estava caçando. Foi um acidente que uns amigos meus causaram.
        - Se eles te machucaram, como podem ser seus amigos?
        - Bem... Não foi culpa dos meus amigos. Mas eles cuidaram bem de mim, me deixaram dormir na cama de um deles, e ficaram de vigília enquanto eu dormia.
        Um silêncio se instalou entre os dois. Quando a garota imaginou que seu irmãozinho havia cochilado por sobre seu ombro, ele questionou:
        - Ruby?
        - Hm
        - O que é vigília?
        A garota riu baixinho, abraçando com mais ternura seu irmão.
        - Eles ficaram prestando atenção em mim a noite toda. Não dormiram, pra terem certeza de que eu estava bem... Isto que é vigília.
        - Entendi.
        - Ruby, demorei a encontrar meu estetoscópio, mas está aqui. Aparentemente o pestinha do Benjamin pegou e... – Elizabeth surgiu no vão da porta, segurando uma maleta grande e branca ao lado do corpo, e com um comprido estetoscópio prateado contornando seu pescoço.
        - Deixe para lá, Beth. Eu vou fazer Ben dormir agora.
        - É – Benjamin exclamou, extasiado de felicidade.
        - Me deixe te examinar primeiro.
        - Amanhã quem sabe. Eu estou bem, não se preocupe. – Ruby se levantou lentamente, segurando na mão de seu irmão. Ela acompanhou seus passos pequenos por todo o corredor, chegando até a última porta, que estava aberta e possibilitava um breve vislumbre do quarto azul, com um papel de parede de carros de corrida, que se estendia diante deles.
        O quarto de Ben continha vários brinquedos espalhados pelo chão, e o mesmo característico cheiro de lavanda do quarto de Ruby. Vinha do alvejante que Suzannah usava todas as manhãs para deixar o a casa impecavelmente limpa.
        Suzannah era a única das irmãs que não trabalhava. Ficava em casa à tarde inteira tomando conta de Benjamin e cozinhando. Na tarde do dia seguinte ela iria visitar uma amiga, na cidade vizinha, que estava doente, e levar-lhe biscoitos caseiros.
        Roxy, de início, era apenas uma garçonete como Ruby. Mas assim que seu talento foi descoberto, ela passou a preencher todas as tardes – e algumas noites – o restaurante no qual trabalhava, com sua doce voz. Ela trazia, diversas vezes, além do pagamento, uma gorjeta grande, ou até mesmo algum fã apaixonado para casa.
        Ruby trabalhava com a irmã, embora sempre sonhasse em fazer algo relacionado a seu incrível dom para o desenho. De vez em quando, ela caricaturava seus clientes em guardanapos, usando a caneta de anotar pedidos. Mas na maioria das vezes, ela era tão sobrecarregada com seus pedidos, que nem sequer se lembrava de desenhos.
        Elizabeth, uma médica de alto nível; Lucy, uma universitária dedicada, prestes a se formar em Direito; e Chelsea, uma professora do primário que dava aulas particulares para Benjamin em casa.
        As seis haviam concordado que não era conveniente colocar Ben para estudar com outras crianças. Afinal, desde os dois anos de idade, todas notaram algo diferente em Benjamin. Ele começara a apresentar algumas habilidades extraordinárias desde então. Como telecinésia e previsões do futuro.
        - Ruby? – ele murmurou, enquanto ela o abraçava, já deitados na grande cama que ficava em seu quarto. Apesar de a maioria dos empregos não serem grande coisa, e de serem apenas uma fachada de vida normal, os sete que moravam naquela casa, eram herdeiros de uma considerável quantia em dinheiro, que fora deixada seis anos atrás, assim que seus pais morreram.
        - Diga.
        - Não consigo dormir. Você pode ler algo para mim?
        - Claro, Ben! – ela exclamou, levantando-se e andando em direção à grande estante cheia de livros que havia no quarto do garoto. Passou os olhos em um por um e perguntou – O que você acha de ‘O gato de Botas’?
        - É um livro de crianças, Ruby. – ele exclamou indignado, no que ela soltou uma risada baixa, pegando então o próximo livro.
        - Moby Dick?
        - Tudo bem.
        Ruby andou de volta à cama de Benjamin, tomando extremo cuidado para não machucar os pés pisando em algum de seus bonequinhos articulados que estavam espalhados pelo chão. Ela se sentou, abrindo a pequena adaptação de Moby Dick apenas para crianças, e lendo com uma voz suave:
        - Chamai-me Ismael.

Um comentário:

  1. Ebááá!!!! post novinho em folha!!! To morrendo de sono aqui, tenho muito que durmir mas nao dava jah que vc tinha prometido postar, mais uma vez amei o capitulo e to muito ansiosa para essa história começar a esquentar! Parabéns miga... bjism e muita imaginaçao!!
    Ate o fim de semna neh! haha

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