
A casa de Daniel tinha algo de aconchegante. Parecia que ele havia se mudado há pouco, mas os pequenos e velhos móveis da casa já estavam posicionados em seus lugares. Benjamin deixou o grosso casaco com o qual havia sido coberto pendurado em um grande cabideiro, e passou a mão por seus cabelos, espalhando a água que se encontrava neles.
Daniel guiou o garoto em direção a um banheiro, e lhe entregou em mãos uma camiseta dos The Sex Pistols. Ben encostou a porta, e se trocou, sentindo-se satisfeito. Provavelmente Roxy ou Ruby iriam insistir em supervisionar enquanto ele retirava suas roupas molhadas, e o agasalhariam até que não sobrasse mais algum pedaço de pele a ser coberto. Mas Daniel o havia deixado escolher a camiseta – em uma pequena gaveta, com poucas blusas, mas ainda assim opções – e deixara-o com sua própria privacidade, como se o garoto fosse realmente capaz de trocar sua blusa molhada. Aquilo era realmente a independência da qual ele precisava.
- Você quer marshmallows em seu chocolate quente? – Daniel perguntou, junto ao fogão, enquanto o garotinho saía de dentro do banheiro de modo desajeitado, tropeçando na barra da grande camiseta que vestia.
- Sim, por favor.
O garoto se sentou em uma cadeira branca. A mesma na qual, embora ele não soubesse, sua irmã havia sentado no dia anterior, ao conhecer os irmãos Hooper e comer panquecas sorridentes em seu café-da-manhã. De onde Benjamin estava, tinha um breve vislumbre da grande lareira que havia em um dos cantos da sala, onde o fogo crepitava, expelindo algumas fagulhas.
- Quer também alguns biscoitos? Eu os fiz pouco antes de sair de casa. Gosto de cozinhar quando meu irmão não está por perto. Pelo ao menos assim ele não come tudo antes que eu sequer termine.
Benjamin riu, enquanto Daniel abria o forno e recebia uma baforada de ar quente no rosto. Ele retirou um prato, com vários biscoitos quentes, repletos de gotas de chocolate quase derretidas. Ben teve que se segurar, para não se levantar correndo para pegar algum deles.
- Você tem um irmão?
- Sim. Ele é cinco anos mais velho que eu.
- E são só vocês dois?
- É...
- Onde estão seus pais? – Ben perguntou, com a boca cheia de biscoitos.
- Bom... Eu e meu irmão estamos um pouco velhos demais para morarmos com nossos pais. Saímos de casa há mais ou menos cinco anos. Houve uma briga entre nós, na verdade – Daniel murmurou, colocando cinco marshmallows enfileirados, lado a lado.
- Vocês brigaram com seus pais?
- Com nossa mãe, para falar a verdade. Nosso pai morreu na guerra, há muitos anos atrás.
- E por que brigaram?
- Bem... – O rapaz desfez a fila de marshmallows, e colocou três deles na caneca fumegante de Benjamin. Os outros dois, ele colocou em sua própria caneca – Eu e meu irmão fizemos escolhas que ela desaprovava. Queríamos algo para nossa vida, e não era bem aquilo que ela tinha em mente.
- Você sente saudades?
Ele se surpreendeu com a inocência do menino, ao perguntar aquilo, mas se surpreendeu ainda mais com sua própria resposta:
- Todos os dias.
- Eu sei como é. – ele acenou positivamente com a cabeça, parecendo muito mais velho e maduro do que realmente era – Também sinto saudades de mamãe e papai, embora não os tenha conhecido. Minhas irmãs me disseram que eles foram pro céu.
- Sinto muito.
- Tudo bem...
O silêncio baixou-se sobre a sala de jantar dos Hooper. O fogo crepitava sonoramente na lareira, e Ben se pegou pensando em como estava tudo melhor agora, porque ele se sentia completamente seguro com Daniel. Assim como sempre se sentira com suas irmãs.
- Daniel! – ele se sobressaltou – Minha irmã!
- Acalme-se, Ben! Conte-me tudo o que houve.
O garoto afundou-se novamente na cadeira, abraçando-se na camiseta de banda de rock que usava. Ele não sabia, mas naquele momento estava vestindo uma das blusas favoritas do suposto seqüestrador de sua irmã, Jesse Hooper.
Com poucas e entrecortadas palavras, o garoto contou como estava feliz, enquanto patinava com sua irmã dentro de casa, pensando que seus problemas haviam acabado – Ben omitiu a parte de que não estava recebendo pensamentos hostis de sua irmã. Sua capacidade de recepção de pensamentos e sentimentos alheios poderia não ser bem aceita –; Ele contou quando ouviram a campainha ressoar como um grito de criança, e o quanto aquele homem, do qual ele havia esquecido o nome, parecia uma boa pessoa de início.
Quando chegou à parte que encontrara o corredor principal vazio, sem nem sinal de sua irmã mais velha, o garoto começou a soluçar tanto que não conseguiu terminar de falar.
- Beba... – murmurou Dan, preocupado – Vai fazer com que se sinta melhor.
Ele obedeceu e bebeu um grande gole do líquido morno e adocicado.
- Você irá me ajudar?
- Claro. – murmurou o rapaz, tomando um longo gole de seu chocolate quente. Ele colocou a caneca vazia diante de si, e olhou para uma grande janela de madeira que havia atrás de Benjamin. A chuva continuava a cair violentamente lá fora. – Mas não acho que seja uma boa coisa sair agora. Meu irmão deve voltar logo, e ele poderá nos ajudar. Além do mais, esta chuva é um convite para uma pneumonia.
- Você e seu irmão se dão bem?
- Na maioria das vezes. Ele é incrivelmente irritante, insensível e sarcástico. Mas eu sei que se estiver com problemas, ele poderia atravessar oceanos apenas para me ajudar. – Daniel sorriu, olhando para as marcas que o chocolate quente havia feito em sua caneca. Benjamin acenou com a cabeça.
- Eu gostaria de ter um irmão... Para brincar.
- Você pode brincar comigo. Sempre que quiser, Ben.
- Sério? – o garoto pegou mais um biscoito, deixando um rastro de migalhas em sua direção – Você seria como um irmão mais velho?
- Exatamente.
- E... – houve uma pausa entre algumas mordidas que o menino deu em seu biscoito – De quê você costumava brincar com seu irmão?
Houve uma pausa da parte de Daniel. Ele começou a se lembrar de sua infância, e alguns momentos passaram rapidamente por sua mente. O Natal, no qual a Sra. Hooper costurava suéteres azuis para ambos os filhos, com suas iniciais estampadas. Os biscoitos de canela da Vovó Hooper. O cachorro manco e velho, chamado Spike, que fora a paixão de ambos os irmãos durante sua infância. As noites nas quais eles jogavam vídeo-game... Daniel tinha pouco mais de três anos nesta época, mas se lembrava vividamente de como tapava os olhos de seu irmão, para que ele desviasse aquele olhar vidrado da tela de TV. Jesse ria animadamente, enquanto tentava retirar as mãos de Dan de seus olhos, e ao mesmo tempo continuava apertando efusivamente a todos os botões coloridos de seu controle.
- Nós costumávamos jogar vídeo-game.
- Guitar Hero?
- Não... – o rapaz respondeu, com uma sonora risada. – Se me lembro bem, jogávamos alguns de luta. Devo ter alguns CD’s velhos em minha mala. Você quer jogar?
- Claro que quero!
Ben se pôs de pé ao mesmo tempo em que Daniel. O menino sorriu, pois percebeu que em sua mente, Daniel Hooper também sorria. Pois havia tido a oportunidade de ser o irmão mais velho desta vez. A oportunidade de tomar conta de alguém, como Jesse sempre fizera.
Sem sombra de dúvida o capitulo mais lindo ate agora, meu deus primeiro eu quase chorei quando ele falou da mae dele! e depois o daniel lembrando da infancia, e pra fechar com cheve de ouro ele podendo ser o irmao mais velho!!! Muito lindo! hj ei so chorei , primeiro de manhã neh, vc bem sabe, e esse capitulo me fez chorar pq e muito lindinho...
ResponderExcluirPS: novidade, adivinha o que eu dei de presente pra minha irma, e jah chegou e eu jah assisti??? >>>>> De Volta Para o Futuro, I, II E III!!!!
BJS Loy you , congratulations again and don't forget to post... pleeeeaaaaseee..