quarta-feira, 24 de março de 2010

(Jesse Hooper)

"Stop there and let me correct it, I wanna live a life from a new perspective
You come along because I love your face... And I'll admire your expensive taste."


        Foram mais ou menos quatro horas na companhia de Jesse Hooper e, ao contrário do que Ruby sempre acreditara que aconteceria, ela não havia perdido a cabeça em nenhum momento. Aliás, havia deixado na ponte a Ruby deprimida e complicada que sempre pensava em James. Naquele momento, existia outra Ruby que ficara adormecida desde a morte do Sr. e da Sra. Ward.
        - Uma banda – ela murmurou risonha.
        - AC/DC.
        - Pensei que responderia Led Zeppelin.
        - Eu pensei nisto. Mas estaria sendo previsível demais.
        - Você é.
        - Calúnia – ele riu, parando defronte a ela – Tente dizer algo correto sobre mim.
        - Como...?
        - Comida favorita.
        Aposto que é alguma fritura bem gordurosa.
        - Na verdade são as panquecas que meu irmão faz. Apenas não deixe com que ele saiba.
        Ambos riram.
        - Tente bebida.
        - Destilados...
        - Não, cerveja.
        - Então... O que você mais gosta de fazer... Dirigir seu Plymouth, eu suponho. – ela murmurou, após um momento no qual ela se mostrou pensativa.
        - Estou entre isto e irritar meu irmão. Então não conta.
        Ele se sentou em um toco de árvore coberto de musgo e passou a fitar como os feixes de luz que não eram absorvidos pelas altas árvores do bosque atingiam a face e os cabelos de Ruby, deixando-a com uma aparência quase que sobrenatural. Continuou a contemplá-la, enquanto respondia casualmente a algumas afirmações incorretas que ela fazia.
        Jesse sentiu seu coração prestes a escapar, quando ela se curvou por sobre ele e seus olhos acinzentados fitaram profundamente os esverdeados do rapaz. Ela mordeu seu lábio inferior e continuou olhando-o de modo analítico, antes de murmurar:
        - Sua mãe tem olhos verdes.
        - Minha avó. – ele retrucou.
        - Droga – ela murmurou com um sorriso, mas não se afastou. Continuou curvada por sobre ele, que tentava ao máximo não perceber o quanto ela parecia estar próxima.
        Os segundos pareceram se arrastar, e o barulho do relógio de pulso de Jesse pareceu ser o único naquele grande e denso bosque. Ruby continuou com seus olhos fixos nos de Jesse e mordeu o lábio novamente. Ele acompanhou o movimento com um olhar e uma leve palpitação desconfortável em seu peito.
        - Você quer me beijar?
        - É um pedido?
        - Uma suposição.
        - A primeira correta do dia.
        - Então faça isso. – ela sussurrou.
        - É um pedido? – ele repetiu a pergunta.
        - Uma ordem.
        - Sim senhora. – ele respondeu, passando as mãos pelo rosto da menina suavemente e trazendo-o de encontro ao seu.
        Havia barulho na mente de Ruby, quando os lábios do rapaz diante de si se selaram aos dela. Gritos que ela não conseguia distinguir, sua própria voz dizendo milhares de coisas ao mesmo tempo de um modo rápido e confuso demais. Mas quando ele a envolveu vagarosamente, mergulhando a menina em um abraço quente e suave, tudo se resignou no mais profundo e calmo silêncio. A questão a ser pensada não tinha relação alguma com o passado, com James e sua morte, e nem com o futuro que aconteceria a partir do momento que eles se separassem novamente. Tinha relação com o que estava acontecendo naquele exato instante. Tinha relação com o carinho com o qual ele a apertava contra si, coisa que jamais havia feito com outra garota, e com o fato de que Jesse era o primeiro homem que Ruby se permitia beijar em três anos.
        E, apesar de Ruby não se permitir pensar nisto naquele momento, ela estava se sentindo verdadeiramente feliz. Ela tinha medo de dizer isto para si mesma – em voz alta ou até mesmo em pensamento – e se tornar uma pessoa fraca mais uma vez, alimentada apenas pelo romance que teria com Jesse. Assim como o que tivera com James. Não lhe parecia certo aceitá-lo naquele momento, mas o toque do rapaz a aquecia e lhe mostrava aquela realidade, da qual ela não estava apta a fugir: ela queria aquilo. Mais do que nunca.
        Os lábios se separaram com um barulho, que pareceu eterno por um breve instante. O estalido das bocas se separando lentamente, trazendo consigo o gosto um do outro.
        - Eu... – ela sussurrou de modo rouco. Não conseguiu dizer mais nada e recostou sua testa na de Jesse. Sentiu sua temperatura febril sendo transmitida por milhares de células que se agitavam como fagulhas, atentas ao momento que se estendia.
        - Vai fugir novamente?
        - Não.
        Ele abriu seus olhos. Pareciam à Ruby mais verdes que da última vez que ela os encarara. Analisou-a, preenchido pela sensação de que havia conseguido algo que queria. Mas não se sentia completo, por ter conseguido amolecer o coração de Ruby, sentia que faltava alguma coisa para fazer com relação àquela garota em seus braços. Ele não queria apenas aquilo, não apenas beijá-la e levá-la para sua cama – Embora aquilo também fizesse parte de seus planos –. Ele queria amá-la. Tê-la todos os dias para si. Chamá-la de sua.
        - Não?
        - Não quero fugir de você.
        - E isso significa que...
        - Eu não sei bem o que significa. – ela confessou.
        - Eu sei.
        - É?
        - Significa que iremos tentar.
        - Tentar? – ela sussurrou, os olhos fechados. A mente entorpecida.
        - Tentar quanto a nós dois.
        - O que? – a garota pareceu se acordar subitamente de um sonho. Arregalou seus grandes e acinzentados olhos para o rapaz diante de si, afastando-se em alguns passos trêmulos.
        - Nós dois, Ruby. Não como duas pessoas distintas e que mal se conhecem. Como um casal. Com um relacionamento. É isto que eu quero. – Jesse murmurou, erguendo-se mais uma vez. Ele andou em direção à Ruby, que continuou se esquivando e andando para trás. Até que ela sentiu que não poderia continuar se afastando dele, ao ser espetada nas costas por um tronco de árvore.
        - Você está... Falando sério?
        - Mais do que nunca.
        - Eu não... Não sei, Jesse. – Ruby deixou escapar em um grande soluço. Ela recostou sua cabeça pesadamente no tronco áspero que havia atrás de si e fechou seus olhos com toda a força que podia. Apenas relaxou novamente, quando sentiu sua cabeça incomodar dolorosamente – Eu estou muito confusa.
        - Por quê?
        - Não sou a pessoa certa para você. – ela murmurou, erguendo o queixo e começando a andar lentamente. Passou por Jesse sem ter a coragem de lhe dirigir o olhar, e deu alguns passos para longe dele, quando ouviu sua voz novamente.
        - Tudo isto por causa de James?
        Ela abriu a boca para responder, mas não conseguiu fazer com que as palavras saíssem. Levou as duas mãos ao rosto e sentiu suas bochechas molhadas com as lágrimas que se faziam presentes mais uma vez naquela tarde.
        - Quer me contar o que houve?
        - Não.
        - Tem certeza? Livrou-se de um peso ao contar sobre seus pais.
        - Mas é diferente.
        - Por causa do tempo? – ele perguntou. Ruby ouviu os passos cautelosos do rapaz estalando algumas folhas no chão, enquanto ele se aproximava lentamente dela. – Eu sei que a morte de James está mais fresca em sua memória, mas você tem que se livrar disto, antes que...
        - Não é isso! – ela exclamou, virando-se para Jesse mais uma vez. Suas bochechas estavam incrivelmente vermelhas e seus olhos deixavam escapar lágrimas quentes – Eu estava lá, Jesse!
        Ele não conseguiu retrucar. Apenas fitou, sem saber como faria a seguir, enquanto a garota que ele queria ter para si tremia diante dele, as lágrimas escorrendo de modo alarmante por sua face pálida, com apenas duas bochechas incrivelmente vermelhas e quentes.
        - Eu consigo me lembrar – ela soluçou – dos gritos dele. Como ecoaram pela rua. Consigo me lembrar do gosto das lágrimas quando elas escorriam. Eu me lembro do sangue dele, Jesse, escorrendo por entre meus dedos.
        Ele parecia ter sido afetado por uma paralisia momentânea, que o impedia de socorrer a garota, mesmo vendo que ela desmoronava diante de si. Ruby, por um instante, ergueu as mãos delicadas diante de seus olhos, e as viu encharcadas com sangue. Sangue que ela sabia ser de James.
        - Estava tão escuro naquela noite. Não havia lua no céu, nem estrelas. – ela sussurrou, mais para si mesma do que para ele. Caiu de joelhos no chão, os cabelos grudando em seu rosto molhado pelas salgadas lágrimas que deixavam seus olhos. – Tão escuro, que o sangue de James estava negro. Sangue negro molhando minhas mãos.
        Ela se calou. Resignou-se a um choro silencioso e repleto de uma dor que quase se estendia ao plano físico. Ruby mantinha suas mãos trêmulas diante dos olhos, como se estivesse revivendo a cena na qual suas mãos estavam banhadas de sangue, iluminadas apenas por um poste afastado e defeituoso, que insistia em piscar sua luz por sobre o corpo inerte de James.
        - Eu sinto muito. - Jesse murmurou, saindo de seu estado momentâneo de letargia, e ajoelhando-se diante da garota. Ele segurou lentamente em suas mãos, sentindo-as tremer por entre seus dedos, e a trouxe lentamente para si. – Não queria fazer você reviver tudo isto. Me desculpe, Ruby, me perdoe.
        - Não posso, Jesse – ela murmurou. Antes que ele se perguntasse do que se tratava, ela se levantou de súbito, afastando-se dele a passos lentos. – Não posso deixar que isso aconteça com você também. Me desculpe.
        E ela correu.
        Para longe de Jesse, longe de James. Longe do céu sem lua e sem estrelas.

Um comentário:

  1. oi amiga, como vc tah em ? to em falta cm vc t na aula de informatica, e amanha tem prova d anatomia! a ruby irrita vc que me conhece sbe uma hor ele deixa e quer ficar cm ele n outra foge! tem otivo eu sei mas.... to cm saudde da roxy ela é legal!!!! amo vc

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